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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dica de Quadrinhos: Questão - Zen a Arte da Violência

O Questão – Zen e a Arte da Violência (Panini, 2009, 180 págs) é um edição que reúne 6 histórias escritas por Dennis O´Neil e desenhadas por Denys Cowan para a DCComics em 1987.

Para quem não conhece, uma pequena recapitulação: O Questão é um personagem criado pela editora americana Charlton Comics em 1967.


A editora foi comprada pela DCComics no início dos anos 80 e todo seu acervo de personagens (incluindo Besouro Azul, Capitão Átomo e etc) passou a ter lugar garantido no universo DC, junto com Super-homem, Batman e outros.

Originalmente, Charles Victor Szasz era o repórter de TV conhecido como Vic Sage, que fazia reportagens investigativas para desbaratar quadrilhas e esquemas de corrupção na cidade de Hub City, uma cidade tão ruim ou pior que Gotham City quanto se trata de criminosos.

Ele é ajudado por Aristotle Rodor um professor de química que criou uma pele artificial que, ao interagir com um gás, aderia a seu rosto e lhe cobria as feições deixando-o assim como um “homem sem rosto”, que aterrorizava os criminosos.

Nessa sua primeira série de histórias após a mudança de editora, Denis O´Neil reformula o personagem, que deixa de ser um simples repórter que vestia sua “fantasia” em busca de respostas, para fazê-lo mais interessado no lado social, político e filosófico das pessoas e da cidade.


Como é uma reformulação, logo na primeira história O Questão toma uma surra de um bando de criminosos e é deixado para morrer no porto de Hub City. Mas ele retorna e é treinado tanto em filosofia Zen quanto em artes marciais por indicação de Lady Shiva, uma assassina de aluguel que vira e mexe aparece nas histórias do Batman, tendo inclusive treinado o último Robin/Tim Drake.


Com essa nova visão de mundo, o personagem abandona um pouco suas aspirações profissionais como repórter e jornalista para se concentrar na questão política e social que destrói sua amada Hub City.

Seu grande oponente nessas seis primeiras histórias é o Reverendo Hatch, que mantém o prefeito sempre bêbado como sua marionete e comanda a cidade por trás dos panos.

Além de dar um novo gás ao Questão com temas mais adultos e pouco usuais em histórias de super-heróis, O`Neil ainda o cerca de novos e carismáticos personagens. Em destaque o próprio Reverendo Hatch com um passado que remonta ao Vietnã, uma família de criminosos mercenários da qual surgirá seu nêmesis, um policial corrupto que quer se redimir e uma velhinha ranzinza.

A arte de Cowan é bem interessante, com uma fluidez de movimento que contrasta e combina perfeitamente com as hachuras, sombras e contornos que dão um tom pesado e sombrio na medida exata as histórias.

A melhor história sem dúvida é a quarta onde os autores dividem a narrativa em várias frentes para mostrar o caos que havia se instalado na cidade após a queda do governo e como ele afetou as pessoas da cidade. O Questão só aparece em poucos quadrinhos tentando salvar um ônibus escolar de uma bomba terrorista.


Recentemente O Questão teve bastante exposição no desenho animado da Liga da Justiça como um herói obsessivo e ligado em conspirações que acaba sendo um dos únicos responsáveis por descobrir os planos de Lex Luthor para a presidência dos Estados Unidos.

Outro personagem alegadamente inspirado no Questão que teve grande repercussão recente é o vigilante Rorschach do filme e quadrinhos Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons.

Esse álbum é uma boa dica para quem gosta de conhecer as fontes originais.

Enfim, uma grande revitalização de um personagem urbano com suspense, ação, artes marciais e filosofia oriental em histórias que marcaram os anos 80 é o que esperar desse álbum de quadrinhos.

Ficamos então na torcida para que a Panini publique novos volumes com o restante dessa fase do personagem, que teve um total de 36 histórias.

Valeu!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Dica de livro: Beber, Jogar, F@#er

Beber, Jogar, F@#er (Planeta, 2009, 287pág.) é o livro que quase não comprei na Bienal do Livro do Rio de Janeiro agora em setembro de 2009.

Tenho uma certa aversão a “livros da moda” e o fato de ser tachado de “versão masculina de "Comer, Rezar, Amar”, outro livro da moda (que não li), piorava essa aversão.

Só fui adquiri-lo depois de ler o primeiro parágrafo na Bienal e, mesmo assim, só depois de ler um trecho na lista de mais vendidos da VEJA e, ainda mesmo assim, depois de motivado pelo tradutor do livro Cassius Medauar (@medauar), a quem sigo pelo microblog Twitter. Cassius foi editor da linha de quadrinhos Vertigo pela PixelMedia, selo da editora Ediouro que acabou em 2008, e só por causa dele, que me respondeu prontamente no Twitter, decidi dar uma chance ao livro. Não me arrependi.

O autor, Andrew Gottlieb, um roteirista e criador de sitcoms (comédias de TV) americanas, escreve sobre a jornada de um homem depois de ter sido chutado pela esposa de um casamento de 8 anos.

Revoltado e deprimido pelo fato da esposa estar morando com um cara chamado David (de quem ele nunca ouviu falar) apenas dois dias depois de sair de casa, Bob Sullivan abandona sua casa e seu trabalho de gerente de contas numa agência de publicidade e decide passar um ano viajando para tentar se redescobrir como pessoa. Suas andanças o levam a Irlanda em busca do prazer de beber (ou do porre perfeito), a Las Vegas pela espiritualidade contida na fé ao acaso das apostas e a Tailândia pelos prazeres sexuais mundanos que o farão valorizar prazeres mais profundos.

Cada lugar justificado pelo título do livro, obviamente.

O livro é narrado em primeira pessoa pelo próprio Bob que começa comparando a vida a uma roleta de cassino e diz ter dividido os capítulos do livro de acordo com os números presentes na roleta.

Essa forma de narrativa dá um toque bastante pessoal ao livro, permitindo ao narrador interromper a história várias vezes para contar episódios de seu passado e fazer observações (sejam elas pertinentes ou não) com o objetivo de introduzir melhor o assunto ou situação a ser narrada a seguir.

Isso permite ao autor, através do personagem narrador se isentar da culpa em criar frases de efeito impagáveis, comentários politicamente incorretos, reveladores e até (por que não?), engraçadíssimos.

Algumas delas:
“Se você cortar um irlandês hemofílico, terá cerveja no copo enquanto ele sangrar.”
“... eu preenchi envelopes para a maluca da Hillary Clinton! Eu gostava dela. Não é minha culpa se ela perdeu.”
“De acordo com Colin, se você ficar bêbado na medida certa no ambiente certo nas circunstâncias certas , você pode, em teoria, viver para sempre.”
“Ele disse... ‘Então, que porra você ta fazendo aqui?’ Uau, hein? Bem impressionante. Aristóteles em seu melhor dia, não atingiu esse nível de profundidade ou perspicácia.”
“Eu era um BlackBerry humano- exceto pelo fato de que minha esposa encostava no BlackBerry dela.”
“Fiz um plano que me permitia ir a pelo menos seis pubs por dia. Com essa média, imaginei que conseguiria visitar todos os pubs da Irlanda até 3017.”
“Adoro estar bêbado. Adoro ficar bêbado. Adoro sair com bêbados. Nem sempre gosto do gosto da bebida.”
“Minha paixão por Giovanna foi totalmente induzida pelo ácool.(...) era incrivelmente tedioso estar com ela se um de nós (ou, Deus me perdoe, os dois) estivesse sóbrio.”

Isso só na primeira parte do livro, claro. (Fiquei com preguiça de procurar nas outras.)


E, apesar de todas essas tiradas, ele ainda consegue contar uma história com um final sensível e cativante.

É um livro que realmente te pega de surpresa. A mim, surpreendeu pelo fato de ser bastante divertido e engraçado, de uma maneira espontânea e verossímil. O jeito que o autor descreve as situações te faz achar (ou ao menos desejar) que aquilo podia acontecer daquela forma a qualquer um.

Uma história sobre redescobertas e reconquistas que foi classificada apenas como uma simples “versão masculina” de um livro de sucesso e que, na verdade, funciona como uma grande sátira desse, mas tendo cacife o suficiente para se destacar por si só, é o que esperar desse livro.

Recomendado pra quem gosta de rir e viajar, seja nas idéias ou pelo mundo.

Valeu!
Ps.: estou no twiter: http://twitter.com/arnalduda. Me sigam!

Saldo da Bienal

Olá!

Bienal do livro acabou e minha lista de aquisições foi grande. Aproveitei a valer meu desconto de 20% como professor nas editoras, sendo que aqui fora as livrarias só dão 10%.

Eis aqui alguns itens que fazem parte da pilha aqui na minha mesa:

LIVROS
31 canções de Nick Hornby.
Alta Fidelidade de Nick Hornby.
Querido e Devotado Dexter de Jeff Lindsay.
Beber, Jogar, F@#er de Andrew Gottlieb.
O Samurai de Wagner Cunha.
Wacthmen e a Filosofia organizado por William Irwin.

QUADRINHOS
Questão- Zen e a Arte da Violência de Dennis O´Neil e Denys Cowan
Demolidor - O Homem sem Medo de Frank Miller e John Romita Jr.
MSP50- Maurício de Sousa por 50 artistas organizado por Sidney Gusmman
Zé Gatão -Crônica do tempo perdido de Eduardo Schloesser
O Homem Ideal de Ralf Konig

Pouquinho, né?

Gastei quase 300 reais nesse material e, apesar de saber que isso vai pesar no cartão de crédito nos meses que virão, fico de alguma forma feliz por dar vazão ao meu instinto consumista podendo pagar com o fruto do meu próprio trabalho. É uma ótima sensação!

A medida que for terminando de ler (já terminei alguns) comentarei sobre eles aqui. Se forem dignos de nota, claro.

Valeu!

sábado, 12 de setembro de 2009

Dica de Filme: Um Homem que era o Super-Homem

Uma comédia dramática sensível e tocante para ser vista por toda a família.

Um filme coreano que estimula a solidariedade e consegue superar a barreira de idioma é o que esperar de Um Homem que era o Super-Homem (A Man Who Was a Superman, Coréia, 2008).

É a história de um sorridente homem de camisa havaiana que, acreditando ser o Super-homem, ajudava obcecadamente a todos que podia. Até que salva a descrente Soo-jung, uma jornalista que estava cansada de fazer reportagens sobre pessoas comuns na TV e decide fazer desse Super-homem alvo de sua última matéria antes de mudar de país. Mas a repórter fica intrigada quando percebe as intenções realmente puras daquele homem e, mesmo terminada a reportagem, continua a investigá-lo até conseguir descobrir a verdade sobre a motivação para suas boas ações e sua suposta crença de que é um super-herói.

Um Super-Homem que alega não ter poderes devido a um pedaço de kriptonita alojado na base de seu crânio, mas mesmo assim segue realizando suas boas ações pela cidade afora.

Essa é a sinopse de uma história que começa leve e engraçada, mas acaba se tornando um drama daquele de umedecer os olhos até do mais rabugento dos seres.

Com ótimas atuações tanto dos personagens principais, quanto de elenco de apoio, o filme surpreende por fazer você rir num momento e se emocionar num outro.

O destaque mesmo fica mesmo para o Super-Homem (Hwang Jung-min), que passa com sucesso uma grande pureza e bondade na metade inicial do filme em contraste com a competente desolação passada no choque de realidade que ele sofre no terceiro ato.

O roteiro é bem estruturado e até um pouco previsível, mas surpreende pela naturalidade com que faz a virada dramática. Também se destaca por falar de temas atuais como ecologia e Aquecimento Global. Em particular com uma repetida referência ao degelo do Pólo Norte que poderia se tornar cansativa ou piegas, mas que é explicada e ganha sentido num momento de revelação.

A fotografia, bastante competente, abusa da cores frias e dessaturadas para fazer contraste com a camisa havaiana multicolorida do personagem principal.

Com direção fluida de Jeong Yoon-chul, a imagem alterna entre a câmera normal e a câmera da repórter, surpreendendo por ângulos inusitados e por mostrar o olhar da jornalista, fazendo o espectador se sentir parte da história. Os movimentos de câmera (travellings e panorâmicas) bem estruturados cumprem a função de dar emoção ou causar suspense a muitas cenas.

Um grande momento do filme é a cena que simula o vôo de Christopher Reeve com Margot Kidder no primeiro filme do Superman de 1978.

Outra cena de destaque é a triste entrevista do Super-Homem sentado frente a uma junta de médicos e jornalistas, sendo mostrado sempre de costas, e tendo que admitir com pesar sua verdadeira identidade. O espectador, não vendo seu rosto, fica com a certeza que o homem que conheceu foi destruído pelos médicos e não está mais ali.

A montagem também foi bem interessante, por vezes mostrando a reação futura das pessoas e o delírio do personagem (que se imagina cheio de poderes) para só depois mostrar o que teria acontecido de verdade.

Um filme que, apesar de ser coreano, se apresenta numa linguagem cinematográfica universal e com uma qualidade acima da média, nos fazendo refletir ao final por que numa era de mundo globalizado mais produções como essa não chegam até o grande público do ocidente.

Baseado numa história real, é um grande conto sobre a solidariedade, mostrando como a vontade e a disposição de uma só pessoa em ajudar pode fazer grande diferença quando bem aplicada.

Recomendado para quem está disposto a romper essas barreiras de idioma e não se importa de rir e chorar em uma hora e meia.

Valeu!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dica de filme: Alta Fidelidade

Um grande conto de passagem para a vida adulta disfarçada numa bela comédia romântica com um roteiro que foge dos padrões de Holywood.

É o que esperar de Alta Fidelidade, filme americano dirigido por Stephen Frears no ano de 2000, baseado no livro mais vendido do autor inglês Nick Hornby (já falei de um livro do autor aqui).

Rob Gordon (John Cusack) é um trintão, dono de uma loja de discos que acaba de levar um fora da namorada. Desolado, ele passa seus dias em sua loja com seus dois funcionários pirados, Barry (Jack Black) e Dick (Todd Louiso) criando listas de “As cinco mais” (ou Top 5) sobre músicas ou qualquer outra coisa que passe pelas suas mentes. Sem esquecer a ex, ele decide contatar as cinco mulheres responsáveis pelas maiores decepções amorosas que sofreu, enquanto pensa no que fazer da vida a seguir.

Um filme que provavelmente custou pouco, todo filmado em locações na cidade de Chicago, que surpreende pela sinceridade e sensibilidade de seu texto (com certeza do livro do Hornby, que ainda não li) e também pelos diálogos dos personagens memoráveis.

Rob, talentosamente interpretado por John Cusack, é um personagem riquíssimo para um ator tanto pela sua obsessão por músicas pop, discos e listas Top 5 quanto pelo apelo de sofrer por amor e admitir que mesmo o amor por uma pessoa não apaga o desejo sexual por outra.
A grande sacada do filme é o próprio Rob narrar a história em tempo real conversando com a câmera. Suas constantes olhadas para a câmera em busca de compreensão acabam provocando a simpatia do espectador pelo personagem. Algo que pode soar exagerado a quem não viu o filme, mas é muitíssimo bem realizado pelo diretor Stephen Frears e pelo próprio ator John Cusack, que ajudou a escrever alguns diálogos, e cuja simpatia e sofrimento por amor conquistam o espectador do filme de cara.

Seu monólogo de abertura do filme (olhando para a câmera e escutando uma música triste) é impagável: “O que veio primeiro? A música ou a miséria? As pessoas se preocupam com crianças brincando com armas, vendo vídeos violentos, como se a cultura da violência fosse consumí-las. Mas ninguém se preocupa se escutam milhares de canções sobre sofrimentos, rejeição, dor, miséria e perda. Eu ouvia música pop porque era infeliz? Ou era infeliz porque ouvia música pop?”



Grande surpresa também foi encontrar alguns atores mais famosos num filme de baixo orçamento como Catherine Zeta-Jones, vulgo Charlie, o Terceiro maior fora que Rob já tomou e seu melhor exemplo de mulher perfeita (de acordo com sua memória, claro) ou Tim Robbins, que poderia ter sido melhor explorado pelo roteiro no papel de Ian, o amante da ex de Rob. Até mesmo o roqueiro Bruce Springsteen faz uma ponta interpretando ele mesmo criando uma música na mente de Rob.

A trilha sonora acertadíssima vai do Rock ao Folk, do Romântico ao Eletrônico passeando pelos diversos ritmos do POP em geral.
A fotografia acerta o tom no realismo, combinando com o figurino dos personagens com muitas cores numa cena leve a quase monocromático abusando do jogo de luz e sombras em momentos tristes.

A movimentação de câmera é competente e sem muitos floreios, se limitando a acompanhar o personagem quando necessário e dando closes nos rostos destes em momentos de maior emoção.

O roteiro surpreende por não dar um ênfase climático ao final, fazendo o filme acabar na firmeza de decisão de Rob sem resolver um ponto em particular, mas dando uma sensação de continuidade, aproximando ainda mais o filme da vida real.

Outra grande sacada do filme, que provavelmente veio do livro, é o amadurecimento de Rob, que até aquele momento veio levado pela vida sem tomar decisões muito importantes, o que muda quando encara suas ex-namoradas e toma sua decisão final, marcando a entrada para a vida adulta.

O filme não deixa de ser também uma grande homenagem a música e aos fãs inveterados de discos de vinil (que ainda existem mesmo na época dos mp3 e da pirataria de CDs).

Recomendado pra assistir com a namorada ou sem ela, já que como Rob somos todos dados a desejos e aos erros que eles nos fazem cometer.

Valeu!
Ps.: só pra desfazer a impressão errada que possa ter ficado na última frase, o final do filme é feliz viu gente!
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