Carga de trabalho ficando pesada por causa da aproximação das provas.
Mas uma semana de repouso por causa de uma torcida de tornozelo seguida por feriados de quase uma semana(só no Rio de janeiro mesmo!) foram ótimos pra colocar a leitura em dia.
A dica de hoje vai pra quem gosta de uma boa história, em particular de uma história de ficção científica bem diferente das usuais.
É um livro da autora americana Ursula K. Le Guin escrito nos anos 60, chamado de A Mão Esquerda da Escuridão.
Uma pesquisa rápida no Google revela que Ursula ficou famosa mundialmente nos anos 70 pelos livros do ciclo Terramar. Uma fantasia mágica passada num universo completamente inventado por ela.
Chegou a ser comparada na época a J.R.R. Tolkien, o autor de Senhor do Anéis, pela sua inventividade e detalhamento das situações.
Mas antes de livros de magia ela se dedicava integralmente a ficção científica. E num terreno quase que exclusivamente masculino não é que ela conseguiu trazer inovação ao tema?
A Mão Esquerda da Escuridão (Editora Aleph, 2008,295 pág.) é a história de Genly Ai, um emissário da federação galáctica conhecida como Ekumen, e sua missão de fazer o primeiro contato oficial com os seres inteligentes do planeta Gethen.
Gethen fica numa das regiões mais distantes da galáxia e é chamado de Planeta Inverno pelos Ekumen por causa de sua temperatura média de -2 graus celsius nas regiões urbanas (podendo diminuir muito mais em tempestades ou em áreas rurais).
As duas maiores nações de Gethen são Karhide e Orgoreyn. Países vizinhos, mas completamente diferentes.
Enquanto Karhide é governada por um Rei que é auxiliado por um Primeiro-ministro e um conselho sem muito poder, Orgoreyn tem 33 Comensais que tentam controlar o país igualitariamente num sistema parlamentar-socialista onde todos os homens supostamente tem os mesmos direitos.
Genly faz o primeiro contato em Karhide, onde residiu durante um ano e meio até conseguir sua primeira audiência com o Rei.
Dono da confiança do primeiro-ministro Estraven, um dos poucos que acreditam que ele é um enviado de outro planeta, Genly chega a doar seu minúsculo foguete e objetos para serem inspecionados pelos cientistas de Karhide, mas alguma coisa sai errado.
O primeiro-ministro Estraven é considerado traidor e banido pelo rei de Karhide e é então que Genly decide tentar de novo no país vizinho.
Em Orgoreyn, tudo parece mais fácil a principio, mas a burocracia e a constante competição por poder entre os Comensais trarão surpresas desagradaveis para o emissário.
O livro é dividido em vários capítulos, nem sempre com o mesmo narrador. A trama principal é narrada pelos registros do diário eletrônico do próprio Genly, mas a todo momento a história é interrompida por relatos de mitos, lendas e registros históricos, além de passagens complementares do diário escrito de Estraven que nos ajudam a entender a formação dos costumes e peculiaridades do povo de Gethen.
Uma dessas peculiaridades e uma das grandes pegadas do livro é o fato do povo do planeta Inverno não ter gênero sexual definido.
A autora faz questão de descrever os nativos como humanoides que poderiam se passar por eu ou você, mas de aparência andrógina e sem órgãos sexuais visíveis sob suas pesadas roupas.
Os órgãos sexuais só apareceriam em ciclos de 26 dias e ficam visíveis por 3 ou 4 dias, onde a potência sexual e desejo reprodutivo do indivíduo atingiria seu máximo.
Esse período é chamado de Kemmer pelos nativos e a autora faz do livro quase um estudo social sobre o quê a ausência da divisão entre sexos poderia fazer por uma sociedade (por exemplo: como não há distinção de sexo, qualquer um poderia engravidar.)
Outro ponto interessante é discussão sobre a evolução social e tecnológica do planeta, recoberto de gelo em grande parte, onde os carros costumam andar a 40km/h, nunca existiram transportes voadores e as casas são construídas com janelas apenas em torres altas (para não serem cobertas em tempos de neve).
O livro também revela uma intensa pesquisa feita pela autora nascida na California (um estado bem quente dos EUA) no detalhamento da sequência de dificuldades que Genly passa por se aventurar em desertos de gelo. Quase como um daqueles filmes de pessoas perdidas em regiões geladas ou que escalam montanhas altíssimas.
E no início do livro, ainda somos presenteados com um ensaio introdutório da própria autora onde ela discute a importância da ficção científica.
Segundo ela, muita gente tem preconceito contra o gênero por achar que não passa de uma extrapolação de situações reais e tentativa de previsão do futuro, quando na verdade a boa ficção científica não passa de simples descrição de situações reais ou desejos atuais num ambiente de mentiras criadas pela cabeça do autor. Igualzinho a qualquer outro romance de qualquer gênero literário. Bem Legal!
Uma trama bem narrada e cheia de reviravoltas com discussão de igualdades entre sexos e raças num mundo inóspito que bem poderia ser o nosso, é o que esperar desse ótimo livro.
Recomendado!
Valeu!
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