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sábado, 14 de março de 2009

Dica de filme e livro: Stardust – O mistério da Estrela

Aproveitando que o trabalho está apenas começando a engrenar e a semana de provas ainda está um pouco longe, decidi fazer mais uma postagem.

Acabo de ler a versão em livro simples de O Mistério da Estrela e editada aqui no Brasil pela Rocco editores em 2008.

E em homenagem a uma colega de trabalho que citou o filme essa semana vou comentar sobre a história.

Stardust (seu nome original) é uma história escrita por Neil Gaiman na forma de um livro ilustrado pelo desenhista Charles Vess, publicado em 1998 pela editora de quadrinhos DC Comics.

Apesar de ser ilustrada e publicada por uma editora de quadrinhos, Stardust não é uma história em quadrinhos.

Gaiman a escreveu na forma de livro e pediu a seu amigo Charles Vess que ilustrasse algumas passagens da história para DC Comics publicá-la.

Gaiman já era um sucesso na ocasião, mas isso era devido a seus roteiros em quadrinhos para a série adulta Sandman e não por causa de seus textos literários.

Só pra situar: a série Sandman foi uma das responsáveis pela criação do selo VERTIGO da DC, que só publica quadrinhos com temática adulta (não confundir com pornográfica) e geralmente fora do universo de super-heróis da editora. A série durou 75 edições e ganhou vários prêmios por seus roteiros (todos escritos por Gaiman), sendo a primeira série em quadrinhos a ganhar em premiações exclusivamente literárias.

Stardust pode então ser considerado o primeiro romance publicado por Neil Gaiman (que já escreveu seis ou sete romances que figuraram na lista do New York Times desde então).

A história se passa no século XIX no vilarejo de Muralha, na área rural da Inglaterra.

O vilarejo tem esse nome por fazer fronteira com um gigantesco muro de pedra que atinge toda a extensão leste da cidade.

O muro tem uma única abertura que leva ao vilarejo e essa abertura é sempre vigiada por dois habitantes da cidade. O motivo dessa vigília é o fato de que quem ultrapassa o muro ou volta louco, ou não costuma voltar.

Dustan Thorn é um rapaz simples e trabalhador que morre de vontade de conhecer o outro lado muro.

Ele tem essa oportunidade na única ocasião que a passagem fica desprotegida. Isso se dá por causa da feira de variedades que acontece do lado de lá do muro de nove em nove anos.

É uma feira mágica. Artefatos e animais estranhos, coisas nunca vistas do lado de cá são negociadas na feira e o preço nem sempre precisa ser dinheiro (podem ser coisas que você nunca recuperará).

Pessoas de toda a parte do mundo vêm à feira e Dunstan acaba ganhando de um viajante que abriga em sua casa a chance de atender o desejo de seu coração.

É então que ele passa a noite com uma linda e misteriosa atendente de barraca com estranhas orelhas pontudas.

Nove meses depois da feira uma cesta com um bebê dentro é entregue aos guardiões do muro com um nome escrito num bilhete: Tristran Thorn.

Tristran cresce e, ao fazer 18 anos, faz uma promessa a Victoria Forrester, a jovem mais bonita do vilarejo, de que traria a estrela que acabara de cair pra ela se ela prometesse dar-lhe o que quisesse na volta.

É então que começa a aventura de Tristran nas terras além-muro atrás da estrela, que nas terras mágicas se revela, para a surpresa de Tristran e do leitor, uma linda jovem de pele clara e cabelos loiros quase prateados, chamada Yvaine.
O problema é que uma estrela cair além do muro é algo muito raro e, além dos perigos desconhecidos da terra mágica, Tristran terá que enfrentar pessoas com intenções não tão boas quanto as dele em relação a jovem estrela.

Fantasia de primeira como nenhuma outra.

Bruxas, príncipes, unicórnios, árvores e animais falantes, navios voadores e outras esquisitices mágicas permeiam toda a história que, apesar disso tudo, contém várias passagens que não são para crianças.

Gaiman fez questão de escrever uma fantasia para adultos, por isso não se incomode ao passar por uma cena de sexo mais detalhada ou uma cena de morte mais esmiuçada e com mais sangue do que o necessário.

Minha história com o livro começou no início de 2002, quando ele teve sua primeira edição brasileira.

Acompanhei o lançamento pelos sites de notícia e fiquei bastante ansioso para obtê-lo. E eu penei pra comprá-lo. Só fui adquiri-la em meados de 2003.

Ainda não trabalhava na época e tinha que dar espaço as minhas nerdices com a mesada que recebia dos meus pais.

Conhecia pouco o trabalho do Gaiman (apenas duas ou três edições de Sandman), mas era completamente tarado por histórias mágicas ou medievais.

Juntei vários meses (um pouquinho a cada mês) de mesada pra conseguir comprar essa pérola ilustrada por Charles Vess e não me arrependi.

Mágica, mistério, suspense e aventura na medida certa (além de belas imagens).

Minha única crítica (se é que posso dizer assim, pois adorei a obra) é que a história demora um pouco pra engrenar e chegar na parte mágica e interessante, mas depois é só alegria.

Já o filme não tem esse problema.

A produção é de 2007 e foi dirigida por Matthew Vaughn.

Tem boas atuações com conhecidos e premiados atores.

Robert de Niro é um dos destaques como o engraçadíssimo Capitão Shakespeare do navio voador (personagem que não existe no livro).

Michelle Pfeiffer é outro e está muito sexy como a rainha das Bruxas.

Também há participações de Peter O´Toole como rei da Fortaleza da Tempestade e Ian McKellen como narrador da história.

Sem falar na talentosa Claire Danes, que faz a estrela caída.

No filme, a magia não demora tanto pra acontecer como no livro, mas a história foi encurtada e abrandada demais, perdendo muito que dava charme a ela.

Uma das coisas que mudaram no filme foi o final.

O livro é uma experiência meio contra-corrente em que Gaiman escolheu por dar ênfase ao prazer das descobertas e da aventura, então não há um clímax grandioso e cheio de ação como no fim do filme.

Outra diferença é que no livro se passam muitos anos antes de Tristran aceitar seu destino.

Uma coisa que também foi boa no filme, além das atuações e participações, é a trilha sonora. Ela dá um ótimo gás às cenas de ação e chega a empolgar bastante.Portanto, apesar de ser diferente, o filme ainda consegue emocionar ao evocar passagens dignas de contos de fada, porém num contexto diferente de histórias infantis.

Espero poder mostrar o livro e o filme pra minha filha (ou filho) um dia. Pulando as partes sangrentas e o sexo, é claro.

Recomendadíssimo!

Valeu!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Dica de Quadrinhos: Um francês, um brasileiro e um argentino.


Férias chegaram ao fim. Carnaval passou. Trabalho começou a todo vapor. E 2009 promete nesse sentido.

Minhas postagens aqui vão diminuir muito. Mas ainda tenho tempo pra postar algumas coisas.

A dica de hoje é sobre três álbuns de quadrinhos que peguei pra ler no fim das férias, mas só acabei agora que já estou trabalhando (pra valer) há duas semanas.
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O primeiro é uma HQ francesa escrita e desenhada por Christophe Blain, que começou a ser publicada em 2001 na Europa, mas só chegou aqui em 2005. Chama-se Isaac o Pirata.

Namorei essa edição nas livrarias por muito tempo antes de comprar. O primeiro motivo foi a falta de divulgação e incentivo que os quadrinhos europeus tem aqui. O segundo foi o preço, bem caro, considerando o autor ser desconhecido no Brasil.

Bom, li resenhas bastante positivas em alguns sites e acabei achando uma promoção dessa HQ no fim de 2008. Comprei, mas ainda enrolei um pouco pra conferir. Perdi foi tempo pra descobrir uma ótima história.

Isaac é um jovem e pobre pintor judeu que mora com a noiva Alice num sobrado na Paris do início do século XIX.

Certo dia, é abordado por um homem que, se identificando como cirurgião, gosta de um de seus desenhos e o convida a conhecer seu rico e excêntrico empregador. O cirurgião oferece um bom dinheiro para manter sua noiva em troca dele embarcar num navio para pintar pro capitão só por alguns dias.

Dali há alguns dias ele se vê dentro de um navio pirata e o cirurgião lhe apresenta ao capitão, que oferece a Isaac um baú cheio dos mais finos materiais de pintura caso ele se junte a tripulação faça desenhos e pinturas das viagens. Isaac não vê muita alternativa e logo se descobre indo às distantes Américas e, mais tarde, ao inexplorado continente gelado ao sul.
Enquanto isso, Alice acaba arrumando trabalho na casa de um jovem e rico viajante que é dono de uma extensa biblioteca. Ele, percebendo se tratar de uma moça letrada e educada, começa a cortejá-la, mas ela resiste. A princípio com o pensamento na volta de Isaac, que leva meses sem dar notícia. E assim a história vai.

Com um bom trabalho de detalhes em paisagens, mas com traço cartunesco (que pode estranhar a princípio) ao desenhar pessoas, o autor soube contar bem uma história de piratas que nada lembra as frenéticas aventuras de filmes de pirataria recentes.

Não leve a mal, a história tem ação sim, mas não é nada injustificado e se diferencia por mostrar mais a reação dos personagens a ela. Nesse sentido os contornos de cartum dos personagens se sobressaem ao mostrar emoções e aí sim o traço funciona que é uma beleza.

Todos os personagens são bem humanos, com características e reações próprias, o que só enriquece a narrativa. E a história, que a princípio parece seguir uma única direção, ganha novos contornos e boas reviravoltas a todo momento, se tornando uma ótima surpresa.

A edição brasileira reúne três histórias da saga de Isaac, publicadas originalmente em 2001, 2002 e 2003 e tem como ponto ruim o fato de não acabar.

Isso é explicado por um motivo: os europeus demoram a continuar suas histórias e costumam lançar poucos álbuns da mesma história por ano, ou seja, já existem pelo menos mais duas histórias lançadas lá fora que a editora brasileira não teve a coragem de lançar por aqui ainda. É uma pena.

Apesar de não ter fim, Isaac o Pirata é uma boa pedida tanto para fãs de histórias sensíveis quanto para fãs de aventura.
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A HQ brasileira é de 2008 e foi inspirada num livro do escritor Franklin Távora, O Cabeleira.

Baseado num roteiro pra cinema escrito por Leandro Assis e Hiroshi Maeda, a HQ, desenhada por Allan Alex, conta a história de um bandido que aterrorizou o sertão pernambucano no final do século XVIII.

Precursor dos cangaceiros e também personagem recorrente na literatura de cordel, José Gomes, o Cabeleira, é mostrado na HQ como um ladrão psicopata e violento que obedecia sempre as ordens de seu maldoso pai e não hesitava em matar mulheres ou crianças quando ficavam em seu caminho.
A história se passa 1786, ano em que Cabeleira e seu pai Joaquim Gomes encontram seu fim. Mas através de alguns flashbacks somos apresentados a infância de José.

Ele foi criado sozinho pela mãe até a adolescência como um garoto bom e trabalhador e, apesar de nunca ter conhecido o pai, nutria uma grande admiração por ele. Dizia a todos que o pai era um soldado caçador de bandidos até que uma noite o pai retorna ferido por um tiro.

A mãe de José só aceita cuidar dos ferimentos de Joaquim com a condição de que ele não se revele ao menino e vá embora logo que curado. Não adianta. José acaba fugindo de casa atrás do pai e caindo na vida de assaltante e matador, começando a provocar medo no sertão.

Voltando a 1786, José reencontra velhos desafetos além de sua amada de infância Luisinha, enquanto é caçado por uma força-tarefa formada por camponeses e montada pelo governador da província, após ter assaltado e agredido o bispo dentro da igreja.

Antes de ser capturado, o Cabeleira, numa passagem digna de Hollywood, sobrevive por dois dias dentro de um canavial cercado de soldados da província. E pensar que é baseado num personagem real.

A narrativa é algo a parte. Bem dinâmica e com ótimos enquadramentos e seqüências sem palavras (inspiração nos mangás ou no cinema?).
E os desenhos seguem um estilo limpo tendendo ao realista, mas com algo de caricatural.

Alguns tipos são muitos magros e outros são muito musculosos que lembram (BONS) desenhos dos quadrinhos de super-heróis. Os rostos de cada personagem são bem distintos e expressivos, conseguindo passar emoção, sem precisar de palavras. Parabéns ao desenhista Allan Alex.

O único problema da história é ela acaba muito rápido.

Na minha opinião, poderia ter rendido bem mais se alguns personagens fossem mais explorados.

Mas no geral, acho que poderia sim resultar em bom filme nacional.
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A terceira HQ é Argentina e foi publicada inicialmente em 1968.

Escrita por Hector Oesterheld, desenhada por Alberto Breccia e finalizada por seu filho Enrique, conta a história de Ernesto “CHE” Guevara desde a infância na Argentina até a morte na Bolívia em 1967.

A história começa já na Bolívia, na campanha final de Che. Trechos do último diário de Che preenchem os quadrinhos. Percebe-se as dificuldades, estratégias e esperanças dele na campanha. Voltamos ao passado com a infância, adolescência e juventude de Che. Vemos seu desenvolvimento até a faculdade. Volta pro presente na Bolívia. Batalhas rápidas. Selva castigando. Perde soldados. Diarréia ataca. Quase um inferno. Volta-se ao passado. Vemos mais da trajetória de Che.

E assim vai, o passado se alternando com o presente, até a prisão e morte dele na Bolívia.

É interessante notar como eles conseguiram resumir tão bem toda a trajetória de Che em pouquíssimo tempo (três meses) depois de sua morte e ainda contar uma boa história alternando-se a sua última tentativa de revolução com o passado do homem que revolucionou Cuba.

Os desenhos dos Breccia são compostos de contrastes entre branco e preto chapados quase sem contornos. Estranha a príncipio, mas logo se consegue perceber um nível de talento majestoso no traço composto de pai e filho.

O realismo dos desenhos também revela a extensa pesquisa fotográfica que deve ter sido feita por eles.

Todo o caminho até a campanha boliviana é mostrado em cenas tiradas de fotos reais ou reconstruções baseadas em depoimentos de amigos e revolucionários.

Quem já viu duas ou três fotos de Che, consegue identificar seu rosto numa boa entre os desenhos.

E as frases curtas e diretas da prosa de Hector Osterheald, alternada com discursos, cartas e palavras do próprio Ernesto Guevara e alguns amigos, conferem um tom poético a história.

Até passagens de sua primeira viagem de moto com Alberto Granado (mostrada no filme Diários de Motocicleta) estão lá.

Alguns historiadores acreditam que essa HQ teve um papel fundamental na consolidação da imagem heróica de Che na Argentina.Necessário dizer também que os autores sofreram retaliações por parte de militares da direita argentina alguns anos depois de publicada a história.

O caso mais grave foi o de Hector, considerado hoje um dos maiores roteiristas sul-americanos, que desapareceu em 1977 sequestrado pela ditadura argentina junto com suas quatro filhas. Uma grande perda para os quadrinhos mundiais e para a sociedade argentina junto com outros 30 mil pessoas desaparecidas até hoje.

Como por um milagre, restaram de sua família apenas sua esposa e seu neto (que tinha apenas três anos de idade na ocasião) para divulgar sua história e seu legado.

Uma declaração de um general argentino, publicada num jornal em 1979, diz que o sumiço de Hector se deu por ele “...ter feito a mais bela história de Che já escrita”.

Outros tempos. Outras maluquices. Que bom que ficou pra trás.

Mas nunca é demais lembrar o passado pra aprender como agir (ou não) no presente.

É isso aí. Até a próxima.

Valeu!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cenas Favoritas: O Cavaleiro das Trevas

Um amigo comentou um post antigo sobre algumas das minhas cenas preferidas nas HQs outro dia e isso me fez lembrar que nesses mais de 20 anos de leitor de quadrinhos ainda existem muitas cenas que me arrepiaram nas HQs.

Uma em especial faz parte dessa minissérie em 4 edições do Batman chamada O Cavaleiro das Trevas (Dark Knight Returns).

A própria série tem muitas cenas memoráveis.

Lançada originalmente em 1986 (chegou aqui em 1987), a série até hoje é lembrada como um marco na história das HQs, e também é considerada por muitos como a melhor história do Batman de todos os tempos.

Foi escrita e desenhada por um jovem Frank Miller, que mais tarde seria o aclamado autor de Sin City e 300 (ambos transformados em filmes de sucesso).

Numa época onde o Batman não andava bem das pernas nos quadrinhos (e na mídia em geral já que o sucesso do seriado de TV dos anos 60 tinha tirado muito da dignidade do personagem), a editora DCComics apostou todas as fichas dando total liberdade ao Miller pra imaginar como seria o futuro do Homem-Morcego.

E ele não fez feio.

Num futuro não muito distante, Bruce Wayne será apenas um senhor de 55 anos aposentado que passa os dias tentando levar uma vida comum em Gotham City. Já faz mais de 10 anos que ninguém avista o Batman ou nenhum outro vigilante em qualquer lugar do mundo devido a uma rigorosa lei que proíbe o vigilantismo.

Mas, como sempre, existe algo de podre em Gotham City. A violência aumenta desenfreadamente. Uma gangue de criminosos ultraviolentos chamada Mutantes está tomando de assalto a cidade e seu líder atraí a cada dia mais jovens para o grupo.

Bruce Wayne decide não ficar parado vendo sua cidade ruir e decide vestir seu uniforme mais uma vez. O problema é ele não malha pra valer há 10 anos, ou seja, está muito fora de forma.

Mas ainda consegue fazer uma brincadeira. Impede alguns assaltos aqui. Dá surra em alguns mutantes ali. Tudo justificado pelo seu senso justiça que só pode ser classificado como psicótico-sádico-obssessivo.

Ele já não é mais o mesmo de antes. Ainda odeia armas de fogo, impede crimes e não se vê capaz de tirar uma vida, mas não vê mal algum em causar dor, ou mesmo aleijar alguém que merece.

Não deixou de ser um herói e salvar vidas, mas ele não luta mais pra proteger os inocentes, e sim pra acalmar seu demônio interno que ficou reprimido durante 10 anos.É aí que as coisas começam a complicar.

A polícia o caça como a um criminoso.
Ele adota uma jovem menina como nova Robin.
Velhos amigos reaparecem para tentar convencê-lo a parar.

E antigos inimigos ressurgem motivados pelo desejo de matá-lo.

É antológica a cena do Coringa acordando de um estado catatônico no Asilo Arkham depois de ouvir sobre a volta do Batman na TV.

Mas essa ainda não é a minha cena favorita.

Eu devia ter uns seis anos de idade quando vi essa revista na banca. Talvez nem soubesse ler direito, mas a imagem da capa me impactou. Batman era o meu herói favorito. É só conversar com minha mãe que ela te conta uma história de como eu fui pra escola três dias seguidos fantasiado de batman aos quatro ou cinco anos de idade.

Meu pai me comprou a revista e, apesar de ter demorado alguns anos pra entender a história, as imagens que vi nela foram combustível pra várias brincadeiras entre meu irmão e eu por muitos anos.

Mas, voltando ao assunto, é aí que entra minha cena favorita da história.

O governo, cansado de ver o Batman escapar da polícia e começar a ser aclamado pelo povo em programas de TV, decide pegar pesado e mandar um velho amigo pra cuidar dele. Contacta o repórter Clark Kent, vulgo Super-homem.

O Super-homem esteve agindo pro governo todos esses anos, utilizando seus poderes para não ser filmado, fotogrado ou mesmo detectado com precisão por nenhum aparelho eletrônico ou olhos curiosos. Então ele segue as ordens do governo e vai atrás do Batman.

Só que Bruce se prepara pra ele. Constrói uma armadura ultra-resistente e manda avisar a Clark que esperaria por ele no local onde seus pais foram mortos.

Super chega ao local na hora marcada e tenta convencer Bruce a parar de agir como vigilante para o bem da América. Batman não o escuta e rapidamente o ataca com uma arma de som. Superman sangra pelo nariz, mas consegue jogar Batman em direção a um poste.

Era tudo que ele queria. Batman se conecta a um plugue que já havia preparado no poste e energiza sua armadura com a eletricidade de toda a cidade. O Super-homem se aproxima e é eletrocutado por milhões de volts de energia. Fica de joelhos e então Batman aproveita para espancá-lo.É aí que entra minha cena favorita.

Bruce (já sem capacete) dá uma senhora surra em Clark enquanto desfere as famosas palavras:
"...Eu quero... que você se lembre, Clark... Em todos os anos que estão por vir... Nos seus momentos mais íntimos... Eu quero que você se lembre... da minha mão... na sua garganta... Eu quero... que se lembre... Do único homem que derrotou você...".

É então que o coração de Bruce pára.

E ele cai aos pés de um ferido e perplexo Super-homem.

Mas é claro que a história não acaba aí. E eu não vou contar mais pra não estragar o final.

Lembro das palavras até hoje.

E Batman derrotando Super-homem foi muito empolgante. Ainda é.

Sem dúvida é uma HQ que ficará pra história por ter redefinido o Batman pro final do século XX e os quadrinhos de um modo geral pelo estilo da narrativa aproveitada e imitada infinitas vezes depois em vários outros personagens.

As cenas que contam a situação da cidade através de comentários dos cidadãos nos programas de TV é uma das que já foram muito plagiadas por aí.
É uma HQ muito elogiada por tratar de política (em particular da Guerra Fria) e também por retratar de forma bastante competente o lado psicológico dos personagens, através de seus pensamentos mais intímos.

O próprio Miller foi contratado meses depois para escrever uma nova história pra origem do Batman nos quadrinhos e essa história, chamada Batman: Ano Um, foi a base pra um dos melhores filmes de heróis de todos os tempos: Batman Begins (aquele de 2006 com Christian Bale) e sua continuação Cavaleiro das Trevas (de 2008 onde o já falecido Heath Ledger levou o Coringa a novas alturas).

A série já teve três ou quatro republicações aqui no Brasil.
A última é de 2007 e junta toda a série num mesmo volume encadernado junto com sua continuação(de 2002), que de tão ruim não é digna nem de uma de citação.Ganhei essa edição de presente da minha namorada há dois anos e guardo com carinho e destaque na minha estante.

Quem gosta do personagem e quer se dizer conhecedor de quadrinhos tem que ler essa história.

Valeu!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dica de filme: O Curioso Caso de Benjamin Button

Férias terminando. Sonhos com a sala de aula (nem sempre bons) já começando. E meu discurso de aula inaugural sendo preparado mentalmente há alguns dias.

Mas eu ainda acho tempo pra apreciar muita coisa, afinal, tenho que ocupar meus últimos dias livres da melhor maneira que posso.

Na semana passada assisti ao último filme de Brad Pitt, O Curioso Caso de Benjamin Button e achei ele bem legal.
Acompanho notícias sobre ele há algum tempo no meu site de notícias preferido (omelete.com.br) e, quando soube que o filme era baseado num conto, tratei de procurar a versão escrita pra ler antes.

Encontrei num sebo da Av. Passos, perto da Praça Tiradentes no centro do Rio.

O conto se encontra no livro 6 contos da Era do Jazz do autor F. Scott Fitzgerald, um escritor americano que começou a ficar famoso na década de 1920 e escreveu livros como Suave é a Noite e O Grande Gatsby (que, se não me engano, já foi adaptado pro cinema).

No conto, Benjamin Button é um homem que já nasce com pensamentos e corpo de velho, com seus 70 e poucos anos, mas é criado pelo pai, um dono de uma grande loja de ferragens, teimosamente como se fosse uma criança. E, ao contrário de todos, rejuvenesce ao invés de envelhecer.

Nasce em 1880 na cidade de Baltimore, no estado de Maryland-EUA e passa pela vida experimentando as fases de idade na ordem inversa de todos nós.

Não existe, a meu ver, uma grande lição no conto.

Pelo que pude perceber foi apenas um pequeno arroubo de experimentalidade do autor ao narrar a vida de um homem comum (quase ordinário) da época, que por acaso fica mais jovem a cada dia. E não existe explicação pra isso, claro.

No conto, por vezes o autor tenta esboçar uma na forma de comentários de outros personagens como: "Benjamin é teimoso. Gosta de ser diferente.", mas não vai além disso.

Talvez o conto deva ter sido bem mais interessante em sua época de publicação. O interessante mesmo é tentar imaginar a passagem dos anos de Button.

Já o filme é bastante diferente. Com quase três horas de duração, muito se buscou, mudou, incluiu ou cortou pra fazer o conto ficar interessante.Na verdade, do conto mesmo só sobram o nome do personagem principal e sua condição especial. E com as mudanças a história do filme ficou bem melhor.

O filme começa no leito de morte de Daisy (Cate Blanchett), uma ex-bailarina com 90 anos de idade, que pede a filha, que não vê há alguns anos, que leia um diário lhe entregaram há algum tempo. É o diário de Benjamin Button (Brad Pitt).

Benjamin nasce em 1918, no dia que terminou a primeira guerra mundial, em Nova Orleans, estado da Louisiana-EUA.

Seu pai se assusta com a aparência enrugada e velha do bebê.
A mãe morre logo depois do parto e o pai, desesperado, abandona a criança na porta de um asilo de idosos.

A governanta do asilo, uma jovem negra chamada Quennie, se apieda da criança e cria o bebê como se fosse seu.

O médico do asilo não dá a Benjamin muitos dias de vida, já que ele parece sofrer de várias doenças típicas da velhice, mas o garoto cresce e vai ficando saudável.

Só que, ao contrário das outras crianças, sua pele continua enrugada, seus cabelos são brancos e ralos, sua voz é rouca e fraca e ele se cansa muito rápido.

Os moradores do asilo, alguns já senis, adotam Benjamin como um colega e ele cresce ouvindo com a cabeça de uma criança (diferente do conto) os conselhos e histórias (algumas bem engraçadas) de sabedoria da velhice.

É então que aos treze anos (mas com corpinho de 70), Benjamin conhece Daisy, uma menina de oito anos que costuma passar os fim-de-semana com a avó.

Ele fica encantado e logo faz amizade com a menina, pois logo na primeira vez que o viu ela diz que ele não parece um velho. Suas vidas estavam definitivamente entrelaçadas.

Aos 17, Benjamin começa a trabalhar num navio rebocador, fica amigo do Capitão, que o leva pela primeira vez a um bordel e também lhe apresenta a guerra (2a. Guerra mundial) alguns anos depois.

Benjamin se apaixona algumas vezes, mas invariavelmente ainda pensa em Daisy, que se torna uma bailarina famosa na Nova York dos anos 40.

Eles tem alguns encontros e vários desencontros, enquanto ela envelhece e Benjamin rejuvenesce, mas só ficam juntos mesmo quando alcançam fisicamente mais ou menos a mesma idade.O trabalho de maquiagem e efeitos especiais do filme é muito bom.

Mas, do mesmo jeito que no conto, o Benjamin Button do cinema não é um personagem tão interessante.

É claro que, diferente da versão original, os autores do filme souberam enchê-lo de figuras interessantíssimas como o homem que já atingido por raios sete vezes, o pigmeu que fez carreira no zoológico, o padrasto de Benjamin no asilo, o capitão do rebocador, a mulher do espião e a própria Daisy.

Todos eles com mais personalidade que o próprio Benjamin, que parece apenas passar pela vida.Saí do cinema com imagens fortes do filme Forrest Gump (aquele com Tom Hanks) na cabeça e, ao ler sobre o filme na internet, fiquei surpreso em saber que ambos os filmes tiveram o mesmo roteirista.

Se prestar atenção a estrutura dos filmes é praticamente a mesma: personagem com uma condição diferente(e meio bobalhão) conhece diversas pessoas interessantes, vivencia importantes eventos históricos e é apaixonado por mulher que encontra várias vezes, mas só vai lhe dar bola depois da metade do filme.Estaria o roteirista sofrendo uma crise criativa?

Apesar disso, do mesmo jeito que gostei de Forrest Gump, também gostei de O Curioso Caso de Benjamin Buton.

E recomendo a quem gosta de histórias sensíveis regadas a humor e com boas doses de lições de vida.
E se tudo isso não te atrair ao filme, ainda pode ir pra ver o mediano ator Brad Pitt (ARGH!) e a talentosíssima e lindíssima atriz Cate Blanchett (UAU!) como personagens principais. E talvez não se arrependa.

Valeu!
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