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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Quadrinhos: Fábulas - A Marcha dos Soldados de Madeira

Conhece a história da moça que mordia uma maçã envenenada? E a do boneco que queria virar menino? E aquela de como um lobo derrubou no sopro a casa onde morava um porquinho?

Tenho certeza que, se teve uma infância bem vivida, você conhece, ou ouviu falar, de todas essas histórias. Mas e se elas não acabassem depois do tão adorado “Felizes para Sempre”?

Foi o que pensou o escritor Bill Willingham ao criar a série Fábulas para o selo VERTIGO da editora americana DCComics em 2003.

Ele interligou várias das nossas fábulas de infância e colocou os personagens delas tendo que conviver juntos num condomínio de vários prédios na cidade de Nova York em pleno século XXI.

O condomínio, conhecido como Cidade das Fábulas, foi fundada há alguns séculos atrás pelas primeiras fábulas que fugiram do mundo mágico. Ele abrange um quarteirão inteiro de Nova York, e nele, as fábulas com formas humanas, podem viver sem envelhecer entre nós, mas mantendo segredo sobre suas reais identidades, claro.

Acontece que há séculos o mundo das fábulas foi atacado pelo misterioso Adversário (cuja identidade é um dos mistérios da série), que clamou para si o mundo mágico destruindo, escravizando ou matando com seu exército qualquer um que ficasse em seu caminho. Sem alternativa, os seres mágicos que não concordaram com ele, tanto os bondosos quanto alguns malvados, acabam fugindo para o mundo “real”.

O autor, e seus desenhistas colaboradores, já ganharam vários prêmios no meio dos quadrinhos pela série que é aclamada como a verdadeira sucessora do Sandman de Neil Gaiman, a série adulta de maior sucesso da editora.

A aclamação é bastante válida. Um dos fatores que comprovam isso é que Willingham fez muita pesquisa para povoar seu universo de fábulas, já que nem só dos mais conhecidos vive a série. Várias fábulas obscuras, saídas de histórias dos mais distantes cantos do mundo também vivem em sua Cidade das Fábulas.

Outro fator é a personalidade e profundidade que ele deu a todas elas, inclusive às mais famosas, subvertendo e atualizando com uma deliciosa malícia, nossos contos de infância.

Por exemplo:
Branca de Neve, que se divorciou há muitos séculos do Príncipe Encantado, é a real administradora da Cidade das Fábulas, já que seu prefeito, o Rei Cole, não é muito bom em governar. Ao contrário do que dizem os contos, é uma mulher de fibra, inteligente e de muita personalidade.

O Lobo Mau, ou simplesmente Bigby Lobo (como ele gosta de ser chamado), se redimiu de suas maldades lutando contra o Adversário, séculos atrás. Hoje, conseguindo assumir a forma humana, é o atual xerife da Cidade das Fábulas. Além de inteligente e bom de faro pra resolver mistérios, é um cara bastante confiável e durão, mesmo admitindo ter uma quedinha pela Branca de Neve.

O Príncipe Encantado, já divorciado de sua terceira mulher, é, além de excelente espadachim, um falastrão galanteador que vive de seu charme e fala-mansa, dando golpes em mulheres (solteiras ou casadas) em toda a Nova York. Branca de Neve lamenta sempre que encontra com ele.


João das Lorotas (aquele mesmo do pé-de-feijão) é um trambiqueiro que só quer saber de se dar bem contando histórias mirabolantes que muitos não conseguem saber serem verdade ou não. É o personagem que encarna quase todos os Joãos (Jack, no original) das histórias fantásticas. Também é chamado de matador de gigantes.

Isso só pra falar dos principais. São personagens recorrentes Rosa Vermelha (a irresponsável irmã mais nova de Branca de Neve), Pinóquio (um mal-humorado menino que não conseguiu crescer), o Príncipe-sapo (que não consegue largar o hábito de comer moscas), o pirata Barba Azul, a Bela e a Fera e muitos outros.

A HQ que acaba de ser lançada no Brasil pela editora Panini é a 4ª compilação encadernada de histórias que dão continuidade ao “Felizes Para Sempre” na Cidade das Fábulas.


Fábulas - A Marcha dos Soldados de Madeira (244 págs.) compreende a edição especial O Último Castelo e mais oito edições da revista regular de Fábulas.


O Último Castelo é a primeira história da edição e conta como foi a última batalha contra os exércitos do Adversário ocorrida no mundo mágico, antes de todos os portais para o mundo “real” serem fechados.

Logo a seguir começa a trama principal que pode ter seu início resumido em alguns acontecimentos:
- Branca de Neve está grávida.
- O Príncipe Encantado tenta se eleger prefeito da Cidade das Fábulas.
- Uma crescida Chapeuzinho Vermelho, que muitos achavam estar morta, atravessa um portal mágico fechado há mais de 100 anos e pede asilo a comunidade das fábulas.
- Bigby Lobo desconfia e começa a investigá-la.
- E João das Lorotas apanha de três homens feitos de madeira.

É uma trama simples e sem muitos rodeios, mas competentemente escrita e montada por Willingham, cujo desenvolvimento leva a um clímax sangrento e emocionante, com muitas baixas do lado das fábulas.

Desnecessário dizer que é uma história para adultos então há palavrões, sexo, violência e sangue, embora não seja nada muito explícito ou gratuito.

Os desenhos são um caso a parte. O desenhista principal, Mark Buckingham tem um traço realista simples e leve. Muito bom ao ilustrar expressões faciais, seu traço pode deixar a história tanto divertida quanto sombria num passar de quadro.
O grande diferencial da série são os personagens (com um apelo óbvio) e o relacionamento entre eles, desenvolvidos com maestria por Willingham. Talvez nem precisasse da trama de fundo sobre a luta contra o Adversário pra fazer sucesso. Dá pra ler edições inteiras sem uma menção a isso e ainda assim se divertir com essa HQ. Mas é claro que um bom autor tem que deixar o público interessado no que está por vir e isso ele fez muito bem.

Uma edição cuja primeira história é um ótimo ponto de partida para quem não conhecia nada da série e com a trama principal tendo um desenrolar dramático importantíssimo que promete ainda mais emoções para os próximos volumes. É aqui que as fábulas finalmente percebem que, depois de séculos, não estão tão seguras no mundo “real” quanto gostariam.

Tudo isso numa ótima, bem produzida e relativamente barata edição da Panini que vale a pena para quem sempre quis saber o que aconteceu depois do “Felizes Para Sempre”.

Recomendado!

Valeu!
Ps.: A edição apresenta toda a história, ou seja, conclui a trama que foi começada (e abandonada) pela editora anterior.

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