O que quatro moradores de uma favela, dois fantasmas, um relógio antigo, um militar reformado e um mapa do tesouro tem em comum?
Simples, a HQ Um dia, uma morte (88págs.), ótima publicação independente do grupo mineiro responsável pela revista Graffiti 76% Quadrinhos.
Simples, a HQ Um dia, uma morte (88págs.), ótima publicação independente do grupo mineiro responsável pela revista Graffiti 76% Quadrinhos.
Publicada com o apoio da prefeitura de Belo Horizonte, o grupo é um dos bastiões da resistência dos novos autores no meio quadrinístico nacional.
Luís, Farofa, Gil e Jaime são rapazes nos seus vinte e poucos anos, amigos e moradores de uma favela que não chega a ter nome, mas poderia se localizar em qualquer cidade grande do Brasil.
Farofa trabalha no IML e acha uma carta com um mapa dentro de um dos bolsos do recém-falecido Sô Antão, seu vizinho, que promete um grande tesouro a quem estiver disposto a procurar. O problema é que o tesouro está enterrado no quintal de um dos grandes traficantes da favela. É então que os quatro jovens, esperançosos de obter uma vida melhor, armam e tentam executar um plano mirabolante para pôr as mãos no tesouro do velho militar falecido.
A edição é dividida em capítulos intercalando presente e passado. Numerados ao contar a trama presente, e nomeados com o nome de um personagem ao enfocar seu passado.
Muito bom é o desenvolvimento dos personagens.
Cada um dos jovens tem um capítulo individual que explica um pouco de sua história e motivações principais em flashbacks não-lineares e por vezes interligados, ou seja, temos o recurso de ver uma mesma cena em dois capítulos diferentes, mas sob outro ponto de vista.
Cada um dos jovens tem um capítulo individual que explica um pouco de sua história e motivações principais em flashbacks não-lineares e por vezes interligados, ou seja, temos o recurso de ver uma mesma cena em dois capítulos diferentes, mas sob outro ponto de vista.
Um recurso muito usado no cinema em filmes como Cidade de Deus e Cães de Aluguel, só pra citar duas referências.
O roteiro ainda tem citações ao grande enigma do que é o Tempo, principalmente ao enfocar o jovem Luís, que vive cercado de fantasmas que lhe dão conselhos (as vezes nem tão bons) sobre como viver sua vida. O livro até abre com uma citação do escritor argentino Jorge Luis Borges sobre a simultaneidade do Tempo.
Os desenhos espantam pela aparente simplicidade de traços que acabam revelando bonitas e complexas composições, principalmente nas páginas inteiras que dão um panorama da favela. Destaque também para o colorido da história, lindamente aquarelada.
Belo trabalho de estréia em Graphic Novels da dupla Fabiano Barroso e Piero Bagnoriol, que antes dessa HQ só tinham histórias curtas publicadas em revistas como a Graffiti 76% Quadrinhos.
Iniciando a Coleção 100% Quadrinhos do grupo da Graffiti em 2007, essa ótima HQ surpreende pela qualidade do texto, pela disposição não-linear do roteiro, pelo cenário inusitado onde se passa a caça ao tesouro e pela escolha de belíssimas cores aquareladas para preencher seus desenhos.
Prova de que bons quadrinhos ainda são produzidos no Brasil.
Recomendado.
Para quem não tem acesso, ela pode ser lida de graça na Internet: http://www.graffiti76.com/hq_um%20dia.html
Um comentário:
Passei só hoje,por acaso,não se acostuma não heim.,
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