É claro que tudo que acontece no filme também acontece no livro, mas eles mudaram a ordem e, principalmente, omitiram muitas das aventuras de Ojuara.
Assisti em outubro ao filme O Homem que desafiou o Diabo (com Marcos Palmeira) e quando soube que tinha um livro fui logo arrumando um exemplar pra mim. Não que o filme seja tão bom, mas fui conquistado pelo carisma dos personagens e adorei o potencial que a história poderia adquirir.
As pelejas de Ojuara é um livro brasileiro escrito por Nei Leandro de Castro na década de 70, que foi a base do filme e, como não podia deixar de ser, é infinitamente superior e mais engraçado que ele.
Se você não conhece, é uma narrativa muito bem feita adaptada de histórias da literatura de cordel.
O livro conta as aventuras do caboclo Ojuara, que já nasceu adulto e escolado, depois da morte (por caganeira) do pau-mandado-de-esposa Zé Araujo (Ojuara é Araujo ao contrário) após esse virar motivo de chacota na cidade.
É então que Zé Araújo (agora Ojuara) se vinga das pessoas que o "caparam" e começa a sair pelo mundo encontrando espíritos de pretos véios, caçando touros bravos na unha, passando por terras mágicas, espantando onças, desafiando brigões, sobrevivendo a tempestade de gafanhotos, testemunhando competições nada comuns e pegando quase tudo que é fêmea que passa na sua frente.
O livro é dividido em três partes.
Na primeira conhecemos o caboclo Zé Araújo e ficamos sabendo como ele se casa (sob o cano de uma espingarda) com Dualiba, filha do turco dono de armazém da cidade.
Na segunda parte, já transformado em Ojuara ele decide sair pelo mundo e deixar o vento guiar seu caminho. É aqui que se passa a maior parte da narrativa e as várias aventuras (onde as vezes Ojuara é só espectador) são inspiradas na literatura de cordel nordestina.
Na terceira parte, Ojuara conhece o preto véio por quem desafia o diabo e, após perceber que o tempo tá passando muito depressa, decide se assentar e constituir família com uma puta de quem ficou com pena. Mas é claro que o coisa-ruim não deixa isso barato.
É impressionante a reconstrução das gírias nordestinas efetuada pelo autor Nei Leandro de Castro, as vezes soa quase como um dialeto próprio. Em algumas passagens eu precisei ler em voz alta pra entender a entonação de alguns personagens. E, ao contrário do que parece, isso torna a leitura ainda mais fluida, pois dá aquele gostinho a mais na narrativa.
As rimas, poemas, canções e trava-línguas presentes em algumas passagens trouxeram uma saudade de algumas brincadeiras de infância. Mas esse não é um livro pra criança, muito pelo contrário. Ojuara tem um apetite sexual incansável e a todo momento pára em algum puteiro novo para dar de servir as moças do bom caminho, e o autor faz questão de descrever alguns encontros desses com detalhes.
Alguns personagens são até bastante convincentes como a turca Dualiba (Lívia Falcão), a puta Genifer (Fernanda Paes Leme) e até mesmo o diabo Cão-miúdo (Helder Vasconcellos) que acaba roubando as cenas onde aparece.
O resto do elenco é que deixa a desejar. A impressão que se tem ao final do filme é que o diretor não perdeu muito tempo tentando explicar cenas ou motivações ao outros atores, que as vezes parecem muito mecânicos e nada convincentes.
É bom provável que a maioria dos atores tenham sido contratados encima da hora e a Produção e Direção só decidiram perder tempo com aqueles que achavam que realmente importavam.
O problema é que isso tirou muito do brilho do filme.
Marcos Palmeira aparece por vezes estar contracenando com as paredes e a falta de reação acaba afetando sua atuação em algumas dessas cenas.
Sem falar de alguns furos no roteiro e na edição.
Mas tem algumas coisas boas. Além de personagens fortes e história carismática, o filme ainda tem de bom as cenas de nudez de quase todo o elenco feminino. E é por isso que eu indicá-lo. Hehehe!
Valeu!
3 comentários:
por falar em livros e filmes... vc viu que saiu a clic 3?
É isso aí, apesar dos apesares que você comentou, eu gostei muito do filme. Não sabia que era originado do livro. Parece interessante e provavelmente irei comprá-lo.
Gostaria muito de ler este livro. Alguem tem em pdf? Me mande. alcivancoringa@gmail.com
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