Foi lançado em agosto de 2008, no Japão, o 1º capítulo da trilogia cinematográfica que pretende condensar 24 volumes de histórias em quadrinhos dos 20th Century Boys.
Ainda não li o mangá original, mas sei que ele foi publicado entre 2001 e 2007 na terra do sol nascente e escrito e desenhado por Naoki Urasawa, mesmo autor do elogiado suspense adulto Monster (publicado aqui pela Conrad Editora).
Uma pesquisa rápida na Internet revela que é uma das HQs japonesas mais elogiadas dos últimos tempos. Tanto que rendeu vários prêmios a seu autor no Japão durante sua publicação.
Alguns sites de fãs disponibilizam pra download (pirata, claro) a versão integral já traduzida para o português.
É a história de um grupo de pessoas comuns que, quando crianças, estabeleceram um cenário mundial para o surgimento de um grupo de heróis. Isso dependeria da ação de vilões que tinham o objetivo de conquistar o mundo e essa ação foi pensada em detalhes pelo grupo no fim dos anos 60 e registrada num caderno que chamaram de O Livro das Profecias. O problema é que em 1997, quase trinta anos depois de terem escrito a história, o grupo percebe que alguém se apropriou de suas idéias infantis e está realmente levando o plano a cabo. Será um deles?
O filme foi dirigido por Yukihiko Tsutsumi e teve a mão do próprio Naoki Urasawa, entre outros, no roteiro.Começa em 1973 com uma rápida cena no colégio onde o protagonista, narra em Off, quando exatamente começou a achar que o Rock podia mudar o mundo. Corta para 2015, numa prisão de segurança máxima onde dois homens em celas uma de frente para outra conversam sobre seus crimes. É então que o homem mais calado (que não chega a mostrar o rosto), começa a contar ao outro a história de um verdadeiro terrorista.
Kenji Endo é um astro do rock falido que em 1997 mora com a mãe e com a sobrinha-bebê Kanna, nos fundos da loja de conveniência onde trabalha. Numa festa de reunião da antiga turma de escola ele é indagado por conhecidos sobre o símbolo de uma seita, liderada pelo misterioso “Amigo”, que é responsável pelo desaparecimento de várias pessoas em todo o Japão. O símbolo é o mesmo que ele e os amigos usavam para designar sua turma 28 anos atrás. Com a ajuda desses velhos amigos, ele se lembra de detalhes do plano que elaboraram para a conquista mundial e percebe eventos acontecendo em várias partes do globo na ordem exata que tinham planejado no passado. É quando Kenji se dá conta que se isso continuar, o mundo pode não estar inteiro para ver o século 21 chegar.
O roteiro é todo construído na alternância de épocas da narrativa. Isso é bem realizado quando precisamos saber fatos importantes da história anterior a narrativa, mas cansa depois de um tempo e provoca confusão num momento específico quando há o absurdo de um flashback dentro de um flashback. O que deixa claro que a história do mangá foi bastante encurtada pra caber na tela. Mas poderia ter sido feito de maneira melhor.A fotografia é boa com cores muito bem definidas, que diferenciam claramente os períodos de tempo de história. O passado assume tons de sépia, o futuro tem um tom mais azulado enquanto que o tempo narrativo principal assume um tom de cor mais normal. A partir de um certo ponto consegue-se distinguir facilmente qual tempo narrativo está sendo mostrado.
Mas o diretor peca ao abusar de zooms e travellings com a câmera no rosto de personagens para afirmar a tensão da cena. Em algumas, o rosto do personagem começa no extremo direito da tela e a câmera se mexe fazendo o rosto quase sumir no extremo esquerdo quando há um corte e o movimento de câmera recomeça novamente na MESMA cena. O corte abrupto quebra a tensão e dilui a seriedade da cena.
Atuação acertada de alguns atores, mas com reações eventualmente exageradas de outros. Talvez seja algo típico de aventuras infanto-juvenis nipônicas fazer poses de efeito depois de uma determinada frase ou ação, mas prejudica o filme tirando seriedade e verossimilhança da história.
A maioria dos flashbacks se dá nas redescobertas do protagonista Kenji, que tem lembranças do passado a cada novo fato mencionado. Mas, sendo ele um dos principais idealizadores do plano infantil, fica meio difícil de suportar a cara de surpresa que o ator principal faz quando lhe contam algo que ele não lembrava.
É claro que um espectador inteligente pode inferir que sua memória estaria prejudicada pelos anos de abuso como astro do rock, mas isso não chega a ser mencionado de forma objetiva para justificar essa surpresa.
Por vezes o cara nem parece que chegou a viver aquilo tudo no passado.
Mas não posso deixar de elogiar a escolha do elenco no quesito aparência. Todos as atores mirins passam perfeitamente a imagem física dos personagens adultos.
No resumo, é um filme bem produzido visual e tecnicamente e com uma ótima história, mas que fica comprometido pelos (poucos) furos no roteiro e bastante prejudicado por alguns excessos da direção e das atuações.
Como é a primeira de três partes, espero que as próximas duas seqüências resolvam esses problemas.
Eu sei que vou ter que procurar o mangá original pra ler. Mas fica dada a dica de qualquer forma.
Valeu!
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