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domingo, 12 de julho de 2009

Dica de Quadrinhos: O Chinês Americano

A sensação do ano de 2006 nos quadrinhos americanos.

Ou seria nos quadrinhos chineses?

Não importa.

O que importa é que O Chinês Americano (Cia. Das Letras, 2009) ganhou a mídia no final de 2006 por ter sido indicado a dois prêmios exclusivamente literários nos EUA.

Chegou a ganhar um deles (o menos importante, é claro), mas a indicação ao prestigiadíssimo National Book Award já serviu pra fazer o nome do sino-americano Gene Luen Yang ficar conhecido no mundo todo.

A HQ conta com três histórias paralelas que começam separadas, mas acabam se relacionando de modo inesperado e espetacular.

A primeira história é uma nova versão da fábula do Rei Macaco (que inspirou o mundialmente famoso mangá Dragon Ball, de Akira Toryama), baseada na lenda do folclore chinês em que um arrogante macaco se declara igual aos deuses após ter dominado por seu próprio esforço todas as disciplinas mágicas do kung fu e alcançado a imortalidade.

A segunda e mais realista é a história de Jin Wang, estudante de pais chineses, mas nascido e criado nos EUA, que repentinamente se muda da comunidade quase toda chinesa do bairro de Chinatown em São Francisco para uma região e escolas tradicionalmente americano, tendo que se acostumar em ser um dos únicos orientais nesse novo ambiente.

A terceira e mais boba é a história de Dani, estudante loiro americano que tem um primo chinês caipira e atrapalhado chamado Chin-Kee, que o visita todo ano e causa as mais loucas confusões. (Escrevi assim pra lembrar mesmo o estilo dos filmes bobinhos da Sessão da Tarde.)

Tudo isso contado num estilo de desenho chapado, estilizado e bem colorido como se fosse um desenho animado da TV.

Três narrativas de diferentes estilos e cargas emocionais que servem pra contar uma mesma história que fala sobre diferença, identidade, mudança, amizade e aceitação.

Temas profundos e importantíssimos, extremamente discutidos em vários ensaios e estudos acadêmicos além de artes em diversas mídias, mas colocados aqui de maneira lúdica e divertida numa história com diversas camadas de entendimento.

Você pode lê-la como uma simples fábula infanto-juvenil. Pode lê-la como uma crítica ao preconceito e aos costumes norte-americanos. E também pode apreciá-la como uma saga da eterna procura da própria identidade.

E nessas três interpretações você estará certo. Não é a toa que ganhou um prêmio de melhor LIVRO infanto-juvenil do ano de 2006 nos EUA.

E isso gerou alguma polêmica na ocasião, pois muitos autores literários clamaram não considerar quadrinhos como literatura ou nem mesmo arte.

Levantou-se novamente um grande preconceito contra os quadrinhos.

Isso em pleno século XXI, muito depois de Will Eisner criar o termo Romance Gráfico (Graphic Novel) com a HQ Um contrato com Deus em 1978.

Depois de Neil Gaiman ganhar um Fantasy World Award em 1991 pela HQ Sandman - Sonho de uma Noite de Verão.

E depois de Art Spiegelman ganhar um prêmio Pulitzer de jornalismo em 1992 pela HQ Maus a história de um sobrevivente (da qual já falei aqui).

Incrível como ainda há esse preconceito depois das HQs ultrapassarem todas essas barreiras. Mas se chegaram tão bem até aqui, com certeza vão mais adiante pra serem reconhecidas simplesmente como arte e ponto.

Há sempre é claro o problema de aspirarmos sermos mais do que somos e pra entender direito isso talvez eu deva dar uma lida novamente no Chinês Americano.

Afinal, a mulher do herbalista já dizia: “É muito fácil se tornar aquilo que se quer ser... desde que você esteja disposto a abrir mão de sua alma.”Profundo, muito profundo. E também sinistro, muito sinistro.

Uma ótima aposta da editora Cia. das Letras que com seu novo selo Quadrinhos na Cia. Já começou 2009 dando o que falar.

Valeu!

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