Uma comédia dramática sensível e tocante para ser vista por toda a família.
Um filme coreano que estimula a solidariedade e consegue superar a barreira de idioma é o que esperar de Um Homem que era o Super-Homem (A Man Who Was a Superman, Coréia, 2008).
É a história de um sorridente homem de camisa havaiana que, acreditando ser o Super-homem, ajudava obcecadamente a todos que podia. Até que salva a descrente Soo-jung, uma jornalista que estava cansada de fazer reportagens sobre pessoas comuns na TV e decide fazer desse Super-homem alvo de sua última matéria antes de mudar de país. Mas a repórter fica intrigada quando percebe as intenções realmente puras daquele homem e, mesmo terminada a reportagem, continua a investigá-lo até conseguir descobrir a verdade sobre a motivação para suas boas ações e sua suposta crença de que é um super-herói.
Um Super-Homem que alega não ter poderes devido a um pedaço de kriptonita alojado na base de seu crânio, mas mesmo assim segue realizando suas boas ações pela cidade afora.
Essa é a sinopse de uma história que começa leve e engraçada, mas acaba se tornando um drama daquele de umedecer os olhos até do mais rabugento dos seres.
Com ótimas atuações tanto dos personagens principais, quanto de elenco de apoio, o filme surpreende por fazer você rir num momento e se emocionar num outro.
O destaque mesmo fica mesmo para o Super-Homem (Hwang Jung-min), que passa com sucesso uma grande pureza e bondade na metade inicial do filme em contraste com a competente desolação passada no choque de realidade que ele sofre no terceiro ato.
O roteiro é bem estruturado e até um pouco previsível, mas surpreende pela naturalidade com que faz a virada dramática. Também se destaca por falar de temas atuais como ecologia e Aquecimento Global. Em particular com uma repetida referência ao degelo do Pólo Norte que poderia se tornar cansativa ou piegas, mas que é explicada e ganha sentido num momento de revelação.
A fotografia, bastante competente, abusa da cores frias e dessaturadas para fazer contraste com a camisa havaiana multicolorida do personagem principal.
Com direção fluida de Jeong Yoon-chul, a imagem alterna entre a câmera normal e a câmera da repórter, surpreendendo por ângulos inusitados e por mostrar o olhar da jornalista, fazendo o espectador se sentir parte da história. Os movimentos de câmera (travellings e panorâmicas) bem estruturados cumprem a função de dar emoção ou causar suspense a muitas cenas.
Um grande momento do filme é a cena que simula o vôo de Christopher Reeve com Margot Kidder no primeiro filme do Superman de 1978.
Outra cena de destaque é a triste entrevista do Super-Homem sentado frente a uma junta de médicos e jornalistas, sendo mostrado sempre de costas, e tendo que admitir com pesar sua verdadeira identidade. O espectador, não vendo seu rosto, fica com a certeza que o homem que conheceu foi destruído pelos médicos e não está mais ali.
A montagem também foi bem interessante, por vezes mostrando a reação futura das pessoas e o delírio do personagem (que se imagina cheio de poderes) para só depois mostrar o que teria acontecido de verdade.
Um filme que, apesar de ser coreano, se apresenta numa linguagem cinematográfica universal e com uma qualidade acima da média, nos fazendo refletir ao final por que numa era de mundo globalizado mais produções como essa não chegam até o grande público do ocidente.
Baseado numa história real, é um grande conto sobre a solidariedade, mostrando como a vontade e a disposição de uma só pessoa em ajudar pode fazer grande diferença quando bem aplicada.
Recomendado para quem está disposto a romper essas barreiras de idioma e não se importa de rir e chorar em uma hora e meia.
Valeu!
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