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quinta-feira, 18 de março de 2010

Filme: Entre o Céu e o Inferno

O que é necessário para acabar com um vício? Mais do que psicologia e remédios é preciso cuidado, atenção e carinho, ou seja, amor.

E até que ponto podemos questionar o amor de uma mãe nessa atual onda de acorrentar o filho em casa para livrá-los do vício? 

É quase isso o que acontece no filme Entre o Céu e o Inferno (Black Snake Moan, 2007) entre Lazarus e Rae.

Lazarus (Samuel L. Jackson) é um fazendeiro e ex-bluesman que acaba de ser abandonado pela mulher.
Rae (Christina Ricci) é uma jovem ninfomaníaca cujo namorado Ronnie (Justin Timberlake) acaba de deixar para entrar nas forças armadas. Ela não agüenta a falta do namorado e acaba drogada, espancada e abandonada na beira da estrada, depois de ficar com três homens no mesmo dia.

Lazarus a recolhe, cuida de seus ferimentos e a passa uma corrente na cintura dela, depois que ela tenta atacá-lo sexualmente. Como é temente a Deus, ele decide tentar curá-la.

Uma história com um grande apelo humano, com a trinca de personagens principais muito bem construídos, já que todos eles se mostram cheio de defeitos e tendo que lutar contra tentações à todo momento, mas nem sempre com sucesso, ou seja, passando longe da superficialidade.

Ponto positivo para Samuel L. Jackson, que aqui faz um bom contraponto entre o Blues (estilo musical popularmente associado ao diabo) e a religião, mostrando que tem talento para ir um pouco mais além de sua costumeira atuação de sujeito durão que lhe fez fama.

Destaque também para o cantor Justin Timberlake que surpreende na construção das tremedeiras e neuroses de seu personagem, apesar de ainda não passar muita credibilidade em algumas falas.

Mas o melhor do filme é, sem dúvida, Christina Ricci, que se mostra cada vez mais uma das melhores atrizes de sua geração, indo de personagens heróicas e boazinhas como em Speed Racer, para essa ninfomaníaca perdida e drogada, que chega a ser nojenta na primeira metade do filme.

Um filme com uma câmera firme e decidida, bela fotografia e seqüências competentemente construídas.

Destaco em particular duas delas.

A primeira mostra Rae acordando de um pesadelo e, mesmo acorrentada, conseguindo “atacar”, por assim dizer, o garoto Lincoln, tal qual um animal enjaulado. Tensão e suspense na medida certa.

A segunda é quando ela pede que Lazarus toque a guitarra enquanto uma chuva se anuncia através dos trovões soando ao fundo. Grande casamento entre música e imagem. 

Na verdade, esse é um casamento que acontece durante todo o filme. 

É inegável o grande apelo musical da película, já que a guitarra de Blues parece estar tocando praticamente o tempo todo. 

Mais um ponto pra Samuel L. Jackson que canta quatro músicas da trilha sonora, não deixando nada a dever aos bluesman da atualidade.

É interessante falar que o título original, Black Snake Moan, ou Lamento da Serpente Negra, é o nome da música que Jackson canta na seqüência dos trovões e que resume a fé e o peso da tristeza de Lazarus pelo fim de seu casamento. 

Não deixe de procurar pela trilha sonora. É muito boa!

Belo filme do diretor Craig Brewer (também roteirista), que captura a atenção pelo Blues tocado quase o filme inteiro e pelas sutilezas das atuações de Samuel L. Jackson e Christina Ricci.

Recomendado!

Valeu!
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