Um show de personagens mal-aproveitados, conflitos superficiais e situações explicadas de forma simplista, quase que subestimando a inteligência do espectador.
É como pode ser definido Lanterna Verde (Green Lantern, 2011) a aposta da Warner Bros e da DC Comics para tentar alçar um personagem que já foi secundário na HQs (mas que nos últimos anos tem uma base de fãs crescente) ao status de sucesso em outras mídias (a exemplo do que a Marvel fez com o Homem-de-Ferro).
Há milhões de anos uma raça de alienígenas imortais forjaram anéis que manipulam energia da força de vontade e escolheram seres de diferentes partes do universo para usá-los e proteger os inocentes.
Hal Jordan (Ryan Reynolds) é um piloto de teste talentoso, mas bastante irresponsável, que é escolhido para substituir o alienígena Abin Sur (Temuera Morrison) em sua missão na proteção do setor espacial 2814 (no qual a Terra está incluída).
Uma vez usando o anel ele conhecerá seus colegas lanternas, enfrentará o cientista Hector Hammond (Peter Sarsgaard) e acabará por confrontar o responsável pela morte de seu predecessor.
O roteiro sem dúvida é o maior problema do filme. Escrito por quatro pessoas (o que quase sempre é um mau sinal) surpreende por prometer muito e cumprir bem pouco, preferindo ficar num nível superficial.
O que não aconteceria se desenvolvessem melhor algumas situações como o passado de Hal (que tem pouquíssimas cenas com o pai) e seus conflitos familiares (cujos irmãos aparecem numa cena até boa só pra serem esquecidos depois).
Até mesmo o passado e motivação da Dra. Amanda Waller (Angela Basset), explicado num flashback, fará sentido pra quem conhece a personagem dos quadrinhos, mas que não acrescenta nada a trama do filme.
O roteiro abusa de diálogos expositivos (um recurso estilístico não-recomendável) para explicar muitas situações e ainda emprega o uso de narração em seu início, que some de repente pra só voltar no final, com a clara intenção de mostrar que alguém contava a história. O problema é que nunca saberemos quem contava e pra quem era contado.
Há também um excesso de situações que se resolvem de surpresa (num ótimo emprego de deus ex-machina), sem nenhum pouco de sutileza por parte do roteiro.
A explicação que Sinestro (Mark Strong), por exemplo, usa pra convencer os Guardiões a criarem um anel amarelo energizado pelo medo (que eles combatem há milhões de anos) é totalmente simplista e inverossímil se considerarmos que a raça tem milhões de anos de existência (e deveria compartilhar o equivalente em sabedoria). Uma criança de 5 anos acreditaria nele. Uma de 6, já não dá pra garantir.
A aparição de Hal em situações-chave de confronto do filme (como a revolta de Hammond após ser preso pelo exército e o já citado diálogo entre Sinestro e os Guardiões) também é gratuita e nada explicada, num claro descaso com os espectadores.
Ryan Reynolds apresenta grande carisma e algum conflito como personagem, mas sua incapacidade de esboçar mais que três expressões (e também seu topete impecável) não empolgam em nenhum momento.
O único personagem bem desenvolvido é Hector Hammond, e o ator Peter Sarsgaard se mostra bastante a vontade com o personagem. Só é uma pena que ele perca a vez pro insosso vilão Parallax, cuja motivação não é explicada (ou foi tão mal explicada que eu esqueci).
O design de produção está de parabéns na criação do planeta Oa, dos alienígenas e dos uniformes em CGI, mas a lanterna que abastece o anel ficou bem descaracterizada em relação aos quadrinhos.
Ponto negativo para o trabalho de edição que em determinados momentos parecem fazer o possível pra sabotar o filme. Como na cena da primeira viagem de Hal ao planeta Oa, que é interrompida a todo momento pra vermos partes da primeira transformação de Hector Hammond. Dava pra passar as duas cenas inteiras alternadamente sem prejudicar a história.
A trilha sonora ainda tenta evocar alguma emoção, mas na primeira aparição de Hal ao público, quando soam alguns acordes da trilha clássica de Superman - o filme de 1978 no vôo de partida do personagem, fica parecendo uma muleta emocional gratuita de muito mau-gosto.
O diretor Martin Campbell (que tem dois 007 e os dois Zorros no currículo) se mostra competente apenas nas cenas de ação, demonstrando muita má vontade pela falta de tato e coordenação com todo o resto já citado.
Em relação a semelhança com as HQs, a impressão que se tem é de que foram lidos quadrinhos de várias épocas do personagem e tentaram incluir muitas referências no filme, mas não conseguiram integrar uma ligação orgânica que dê sentido a muitos delas.
A inclusão de Amanda Waller (mesmo que totalmente descaracterizada) no filme dá a entender que poderá haver uma integração entre personagens da DC no cinema (como a Marvel está fazendo), mas é algo difícil de imaginar depois dessa bomba.
Não dá nem pra acreditar que Geoff Johns, o roteirista que atualizou grande parte da mitologia dos Lanternas nos quadrinhos para o século XXI (e hoje é editor de todo universo de super-heróis da DC), foi consultor criativo do filme. O que o dinheiro não faz, né?
Me senti como se estivesse assistindo hoje um episódio do desenho dos Superamigos do início dos anos 80. Quem consegue apreciar aquele desenho hoje em dia por algo além do saudosismo da época poderá até gostar do filme.
O problema é que com tanta coisa boa que veio depois fica difícil baixar a barra de qualidade.
Um filme que não empolga, encabeçado por um ator canastrão liderado por um diretor preguiçoso num roteiro superficial é o que esperar desse filme.
Valeu!
Um comentário:
Só ouço falarem mal desse filme, e agora você acabou de vez com minha vontade de assiti-lo. Vou esperar sair em dvd e vou baixa-lo, não vou gastar meu dindin a toa. Um abraço!
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