Jacques Tati (1907-1982) foi um ator e diretor francês que fez grande sucesso no cinema da década de 50 a 70. Começando a vida artística como mímico, evoluindo para comediante de palco e só então cineasta, seus filmes se caracterizam por dominar o humor inocente e sem palavras.
Isso pode ser comprovado em seus maiores sucessos como As férias do Sr. Hulot (1953), Meu Tio (1958) e outros filmes que inspiraram toda uma geração que veio depois dele.
O personagem Mr. Bean, interpretado por Rowan Atkinson, por exemplo, é quase uma cópia do Sr. Hulot que Tati representou várias vezes no cinema.
O personagem Mr. Bean, interpretado por Rowan Atkinson, por exemplo, é quase uma cópia do Sr. Hulot que Tati representou várias vezes no cinema.
Falecido em 1982 após amargar seus dois últimos filmes quase fracassarem nas bilheterias, ele agora retorna, ao menos em idéia e espírito numa adaptação e homenagem de Sylvain Chomet, responsável pelo longa-animado O Mágico (L'illusionniste, 2010) produção conjunta da França e Reino Unido.
Tatischeff é um mágico ilusionista de meia-idade que começa a perder trabalhos por causa do surgimento de bandas de rock na Europa da década de 60. Apresentando seus shows em eventos cada vez menos badalados, ele acaba indo parar no interior da Escócia onde encanta a adolescente Alice que, acreditando ser ele um verdadeiro mago, decide deixar a pequena ilha onde morava para acompanhá-lo. Como a menina não tinha um tostão no bolso, caberá ao modesto e bondoso ilusionista sustentá-la enquanto enfrenta a constatação que talvez o mundo moderno não tenha mais lugar pra alguém como ele.
Inspirado num roteiro jamais filmado do próprio Tati, a história surpreende em dois aspectos: quase não ter falas e por não fazer concessões a padrões animados de final feliz pra todos.
A dura realidade da forçada mudança de perspectiva sofrida pelo mágico está presente em todo filme, que é contado com bastante sensibilidade, bom-humor e melancolia.
A dura realidade da forçada mudança de perspectiva sofrida pelo mágico está presente em todo filme, que é contado com bastante sensibilidade, bom-humor e melancolia.
Num determinado momento do filme Tatischeff se hospeda num hotel onde convive com outros artistas como ele, cujos arcos acabam se revelando mais tristes do que se poderia imaginar num desenho animado.
A(s) seqüência(s) de desilusão do palhaço e o reencontro do mágico com o ventríloquo são exemplos de como alguns podem encarar negativamente o fim da própria carreira. O que não acontece com os trigêmeos trapezistas que trataram de manter o otimismo e se reinventar mesmo que seja atrás dos holofotes.
O mágico faz várias tentativas durante o filme, algumas gerando seqüências bem engraçadas como a da garagem noturna e a da vitrine da loja.
Seu relacionamento com Alice, cuja motivação só é revelada no último quadro da película, também gera cenas hilárias como a do cozido de coelho.
O fim do filme, sobretudo, é bastante emblemático trazendo o ilusionista de cabeça erguida, mas encarando um futuro incerto pela frente.
Destaque para a seqüência em que Tatischeff entra acidentalmente num cinema e dá de cara com o próprio Jacques Tati, cujo visual foi inspiração pro personagem animado, no filme que está sendo veiculado na telona.
Com um estilo simpático, caricato e bastante incomum no desenho de personagens, que lembra muito o último filme de Chomet, o premiado As bicicletas de Belleville, O mágico demonstra alguma evolução na animação desde 2003 pra cá.
Isso é visível em cenas com muitos personagens, como a da taverna escocesa, onde as figuras ganham vida e personalidades individuais através de ações e trejeitos específicos. Tem-se que rever a cena várias vezes para prestar atenção no cada um está fazendo.
Outro ponto importante é a mistura quase imperceptível das animações em 2D dos personagens e figuras vivas com a perfeita integração da renderização em 3D de veículos, cenários e objetos de cena.
Talvez a gigantesca Disney pudesse aprender uma ou duas coisas com os franceses que ainda se aventuram nos desenhos em que o computador não é o principal elemento de animação.
Ponto positivo para a trilha sonora original composta pelo próprio Chomet, que tem grande destaque e responsabilidade ao ajudar a contar a história numa película de pouquíssimas palavras. É a grande responsável pelo tom melancólico do filme.
Uma animação que foge dos padrões e encanta pelo nível de realidade e sensibilidade com que a história é contada.
Recomendada pra todas as idades.
Valeu!
Valeu!
Um comentário:
Ótimo, só uma pergunta: DVD ou cinema?
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