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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Livro: A morte e a morte de Quincas Berro Dágua

Dizem que Quincas Berro Dágua, o “pai dos vagabundos”, foi um homem que morreu três vezes na Bahia de todos os santos. 

Sua primeira morte foi moral, quando abandonou a família após sua aposentadoria de respeitável funcionário público pra viver entre putas, bêbados, jogadores, capoeiristas e vagabundos. Sua segunda morte se dá quando amanhece morto num quartinho imundo depois de dez anos longe da família original. A terceira morte se dá após o seu velório, quando quatro de seus companheiros vagabundos roubam o cadáver com o objetivo de lhe dar uma última noite de festa pelos becos da capital baiana. 

O que aconteceu antes, durante e depois dessas mortes só Jorge Amado (1912-2001) pôde contar.

E contou magnificamente na obra A morte e a morte de Quincas Berro D´água que começou a ser publicada em capítulos a partir de 1959 na revista Senhor, e que em 1961, foram reunidos em formato de livro.

O “cachaceiro-mor de Salvador”, o “filósofo esfarrapado da Rampa do mercado”, o “senador da gafieiras”, Quincas Berro Dágua, o “vagabundo por excelência” eis como o tratavam os jornais, onde por vezes sua sórdida fotografia era estampada.

Um romance de mais de 50 anos de publicação que trabalha com valores extremamente atuais. Uma crítica a alta sociedade baiana na prosa informal, perspicaz e cínica de Jorge Amado feita de forma leve e contendo passagens engraçadíssimas.

Nem agora, morto e estirado num caixão, com velas aos pés, vestido de boas roupas, ele se entregava. Ria com a boca e com os olhos, não era de admirar se começasse a assoviar. E, além do mais, um dos polegares – o da mão esquerda – não estava devidamente cruzado sobre o outro, elevava-se no ar, anárquico e debochativo.
– Jararacas! – disse de novo, e assoviou gaiatamente.

Jorge Amado narra como observador, mas, pegando carona nas Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis, pontua o texto com algumas pequenas intromissões de Quincas trabalhando o realismo fantástico e o humor de algumas obras posteriores.


– Está um senhor – gabou o Negro Pastinha. – Um defunto porreta!
Quincas sorriu com o elogio, o negro retribuiu-lhe o sorriso:
– Paizinho... – disse comovido e cutucou-lhe as costelas com o dedo, como costumava fazer ao ouvir uma boa piada de Quincas.

Um livro curto (120 páginas) e bem rápido de ler que se destaca pela leveza com que faz as críticas sociais e morais, pelos personagens muito bem caracterizados (especialidade de Jorge Amado), e pelo humor que só a informalidade e baianidade de seus textos podem promover.

Como fora então morrer de repente num quarto na ladeira do Tabuão? Era coisa de não se acreditar, os mestres de saveiro escutavam a notícia sem conceder-lhe completo crédito. Quincas Berro Dágua era dado a mistificações, mais de uma vez embrulhara meio mundo.

Eleito em 2006, o melhor romance do autor numa enquete feita entre escritores e editores por uma revista especializada, o livro ainda teve uma nova edição lançada em 2008 pela editora Companhia das Letras. 

Essa edição vem acompanhada de ilustrações, fotos e um posfácio de Affonso Romano de Sant´Anna que conta a história de cabo Plutarco, o homem que teria sido a inspiração pra Jorge Amado escrever a história de Quincas.

Recomendadíssimo!

Valeu!

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