O Jornalismo Literário ou Novo Jornalismo é um termo cunhado nos anos 1960 para o jeito de narrar histórias verdadeiras com toda a liberdade criativa de um livro de ficção, com direito a diálogos e tudo.
O escritor e documentarista inglês Jon Ronson é adepto desse estilo no livro Os Homens que encaravam Cabras (302págs, 2010) que a editora Record lançou no Brasil em Abril desse ano por conta do filme com George Clooney, que teve uma estréia bastante tímida por aqui.
O título chamativo e aparentemente sem sentido é o espelho da prosa irônica de Ronson ao contar a história do famoso Laboratório de Cabras do exército americano.
O laboratório de cabras é um lugar oficialmente reservado ao treino de médicos do exército na extração de balas e tratamento de outras injúrias que poderiam ser sofridas por soldados nos campos de batalha. De acordo com Ronson a primeira versão do laboratório era compreendido por cachorros, mas os soldados tinham muita pena de atirar nas patas dos bichos para os médicos tratarem. Com as cabras, por alguma razão, esse problema foi resolvido.
O problema é que as cabras não foram usadas exclusivamente para esses fins. As pesquisas de Ronson revelam que numa determinada ocasião um homem, só de olhar, chegou a parar o coração de uma cabra.
É em busca desse homem que ele parte no início do livro e suas fontes (todas elas devidamente identificadas) acabam apontando que o exército tinha outras metas tão estranhas quanto parar um coração só com o olhar.
Coisas como levitação, atravessar paredes, projeção astral, telepatia, visão remota, sons hipnóticos, invisibilidade e controle mental já fizeram parte da pauta do exército americano no início dos anos 1980. E alguns dizem que ainda fazem.
Tudo isso por causa do tenente-coronel Jim Channon que escreveu em 1978 o manual do Primeiro Batalhão da Terra em que descreve como deveria ser o soldado perfeito.
Jim sobrevive a um episódio desastroso na Guerra do Vietnã e apresenta a seus superiores sua idéia de pesquisar novas técnicas para aprimorar os soldados. O exército concorda e, incrivelmente, financia sua viagem a países do extremo Oriente e sua estadia em comunidades hippies norte-americanas.
Jim sobrevive a um episódio desastroso na Guerra do Vietnã e apresenta a seus superiores sua idéia de pesquisar novas técnicas para aprimorar os soldados. O exército concorda e, incrivelmente, financia sua viagem a países do extremo Oriente e sua estadia em comunidades hippies norte-americanas.
Voltando pra casa revigorado, ele apresenta seu manual, que é tido com extrema desconfiança, mas é resgatado pelo major-general Albert Stubblebine III, que vê ali a única saída para o desânimo que parecia corroer o exército americano após o fracasso do país no Vietnã.
Stubblebine é o personagem principal do engraçadíssimo episódio narrado na abertura do livro.
Stubblebine é o personagem principal do engraçadíssimo episódio narrado na abertura do livro.
Jon Ronson vai além e acaba descobrindo e expondo toda uma rede de iniciativas tomadas pelo exército desde então. A espuma paralisante e a tortura com drogas ou músicas de um certo dinossauro roxo tocadas continuamente, por exemplo, são algumas das ações que foram grandemente alardeadas em 2002 pela mídia mundial na Guerra do Iraque e podem ter partido de uma deturpação das idéias do manual de Jim Channon.
O autor se insere na história atrás da verdade sobre os experimentos paranormais do governo dos EUA indo atrás de tipos muito estranhos que podem ter sido empregados pelo exército.
Tem entrevista até com o famoso paranormal Uri Geller, que nos anos 70 vivia aparecendo na televisão entortando e quebrando garfos e colheres de metal com apenas dois dedos.
Segundo Ronson, Geller chegou a dar várias entrevistas nos anos 1980 se dizendo espião do exército e atualmente (em 2003) se dizia reativado, apesar de não querer falar sobre o assunto.
Segundo Ronson, Geller chegou a dar várias entrevistas nos anos 1980 se dizendo espião do exército e atualmente (em 2003) se dizia reativado, apesar de não querer falar sobre o assunto.
Sobre até pra CIA, pro FBI e pro governo inglês realizarem alguns experimentos em episódios que não ficaram marcados positivamente nas Histórias dos países.
Um livro que começa num tom de comédia baseado em aparentes absurdos que acabam tomando ares assustadoramente reais ao relacionar tortura psicológica, seitas de suicídio em massa e assassinato por queima-de-arquivo com as pesquisas de governos na modalidade de guerra para o século XXI, a guerra psicológica.
Grande trabalho jornalístico e literário de Jon Ronson numa prosa leve e direta que ainda inclui no miolo meia dúzia de fotos de personagens reais de algumas das histórias e uma extensa bibliografia comentada pelo próprio autor para embasar os episódios sobre o qual discorre.
Um bom exemplo de como até mesmo instituições rígidas e aparentemente inquestionáveis como o Exército Americano não estão livres da estupidez humana. Basta ter algum ser humano (e talvez cabras) no meio pra isso.
Recomendado!
Valeu!
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