O novo álbum do cartunista Laerte pela Quadrinhos na Cia chama-se Muchacha (96 pág, 2010) e é uma compilação de tiras já publicadas anteriormente no jornal Folha de São Paulo.
Provavelmente a série diária com uma mesma história de maior duração do autor, Muchacha apresenta um programa de TV e seus bastidores num Brasil do ano de 1958, com direito a travestis, loucos internados, jornalistas oportunistas, taras não-convencionais, morcegos comunistas, propagandas politicamente incorretas e homens do futuro.
Capitão Tigre é um programa infantil sobre um espadachim mascarado que vive para salvar seu amor Sulfana das garras do tirano Rei Almedar e do traiçoeiro Milhafre.
Tudo começa quando o patrocinador do programa muda e exige incluir naves espaciais e alienígenas na história típica de capa-e-espada. Isso provoca um surto em Lairo Villa, o interprete do herói, que assume a identidade do personagem e provoca um grande rebuliço, gerando reações adversas em todo o elenco.
Tudo começa quando o patrocinador do programa muda e exige incluir naves espaciais e alienígenas na história típica de capa-e-espada. Isso provoca um surto em Lairo Villa, o interprete do herói, que assume a identidade do personagem e provoca um grande rebuliço, gerando reações adversas em todo o elenco.
Laerte, que trabalhou muitos anos escrevendo pra TV e recentemente lançou um álbum sobre suas lembranças da telinha desde a infância, destila todo seu conhecimento de área nessa tira, fazendo questão de mostrar o lado sórdido, e muito mais interessante, dos bastidores de programas do tipo.
Exibindo um grande domínio da narrativa, Laerte divide a série em várias frentes, abordando não só o personagem principal, mas desenvolvendo personagens igualmente carismáticos como o ator injustiçado (e travesti) Djalma, o escritor mau-caráter Cabayba e o morcego de desenho animado Frederico, um estereótipo do que de pior se falava sobre o comunismo na época.
Definido pelo autor como um “Graphic-Folhetim”, Muchacha é uma grande homenagem a TV e retrata de forma bem legal os costumes da década de 50, com direito a citações e aparições de figuras ilustres da época como Ângela Maria, Elizete Cardoso e Ivon Curi. Sem falar nos trechos de músicas em espanhol que dão ritmo a algumas das tiras.
Vale ressaltar que é uma experiência bem diferente ler uma tira por dia separadamente do que lê-las de uma vez na seqüência do álbum. Enquanto que lendo diariamente podia existir uma dificuldade para o leitor se situar e até mesmo no entendimento de algumas viradas na trama, ao lê-as todas juntas se consegue perceber a maestria das escolhas narrativas do autor que consegue amarrar muito bem todas as pontas soltas e dar unidade a história.
Interessantíssimo trabalho do autor que conquista pelo ritmo de leitura ágil e consegue ser, ao mesmo tempo, sensual e inocente, além de muitíssimo bem estruturado.
Recomendado!
Valeu!
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