O diretor Tim Burton conseguiu.
Conseguiu acabar com uma das melhores histórias infantis de todos os tempos, escrita em 1864 pelo inglês Lewis Carroll, psedônimo de Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898).
Mas é claro que Burton não fez isso sozinho. O roteiro ajudou muito. Os atores também. E boa parte da Trilha sonora.
Como isso aconteceu? Vamos por partes. Primeiro um pouco da história.
Alice Kingsley (Mia Wasikowska) é uma jovem que tem um pesadelo de infância recorrente: adentra um mundo estranho com criaturas muito esquisitas sem razão aparente. Com a iminência de um casamento de conveniência arranjado pela mãe, ela foge e cai num buraco de árvore ao perseguir um coelho apressado. Se vê no mundo de seus sonhos, onde parece ser a escolhida da profecia que tirará a Rainha Vermelha (Helena Bonham-Carter), que gosta de escravizar seres e tem predileção por cortar cabeças, de seu trono.
Roteiro cheio de furos e situações gratuitas, quase como num sonho. Personagens desaparecendo numa cena e voltando na outra sem explicação, como a ratinha Dormindonga e o cão Bayard, são algumas dessas situações. O problema é que o que começa como um estranho sonho vai ganhando ares de realidade, mas a repetição desse tipo de furo e aparição gratuita tira a credibilidade da história.
Outra coisa ruim é que, fora Alice, não há preocupação em aprofundar os personagens. Nem mesmo em apresentá-los. O roteiro aposta num conhecimento prévio de todos, o que até funciona para alguns, tipo o coelho e o chapeleiro, mas outros ficam meio deslocados, como a Rainha Branca. Que seria a grande antagonista da Rainha Vermelha, mas o roteiro não consegue estabelecer um conflito satisfatório entre elas.
A Rainha Vermelha é tão bem e divertidamente interpretada por Helena Bonham-Carter que, se não fosse tão fã de cortar cabeças, talvez ninguém reclamasse dela permanecer no trono. É sem dúvida a alegria do filme.
Quem decepciona mesmo é Mia Wasikowska. Sua Alice começa o filme inexpressiva, o que até seria justificado pelo roteiro, mas a atriz falha ao não conseguir desenvolver muito mais do que duas expressões ao longo de todo o filme: feliz e preocupada.
Johnny Depp está muito esquisito e passável como Chapeleiro Maluco.
Mas o que não dá pra aceitar é Anne Hathaway como Rainha Branca. Seus trejeitos e expressões afetadas parecem tão falsos que não condizem com a bondade que deveria emanar da antagonista da Rainha Vermelha. Não dá pra acreditar quando ela diz que fez um voto de não matar criatura viva e pede que Alice mate o Jaguadarte. Hipocrisia? É claro que talvez o roteiro não ajude.
Os personagens em computação gráfica é que roubam a cena conseguindo ser muito mais expressivos que a maioria dos atores.
Destaque para o risonho Gato de Chesire, dublado por Stephen Fry.
Destaque para o risonho Gato de Chesire, dublado por Stephen Fry.
Até a trilha sonora é errada. Muito exagerada. Com certeza com o objetivo de provocar grandes emoções no espectador quando na verdade não está acontecendo nada. Quase um tapa buraco ou um remendo pra falta de emoção do filme.
Percebe-se que há a tentativa de tornar Alice um épico, com batalhas de exércitos e um dragão (o temido Jaguadarte) no final, porém Tim Burton erra, e muito, a mão.
Mas, pelo menos visualmente, ele consegue deixar sua marca. O figurino e direção de fotografia são impecáveis. Destaque para o cenário do tabuleiro de xadrez onde ocorre a batalha final e para as montagens e animações por computador.
A melhor seqüência do filme é quando Alice lembra da primeira vez que esteve no País das Maravilhas. A evocação do desenho clássico da Disney (de 1951) é um grande suspiro emotivo num filme quase todo insípido.
É um filme bastante colorido e atraente visualmente. Tanto que deu origem a uma série de produtos derivados que podem ser encontrados a venda em lojas e estão fazendo sucesso entre a garotada, em especial as meninas. Pena que não dá pra tirar quase mais nada dele.
Um filme que criou um grande expectativa e falhou em alcançar várias delas.
Sem dúvida agradará as crianças, que parece ser seu público exclusivo, mas se você procura um pouco mais de profundidade, ao invés do filme, pode aproveitar pra ler os dois livros originais de Carroll ou assistir algumas das inúmeras adaptações que a história teve ao longo desses quase 150 anos.
Sem dúvida agradará as crianças, que parece ser seu público exclusivo, mas se você procura um pouco mais de profundidade, ao invés do filme, pode aproveitar pra ler os dois livros originais de Carroll ou assistir algumas das inúmeras adaptações que a história teve ao longo desses quase 150 anos.
Valeu!
Um comentário:
Concordo plenamente amigo. Sou fã da história tenho os livros (Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho) já os li aalgumas vezes. Quando soube do filme me animei, além do mais tinha o Johnny Depp, na minha opinião, ótimo ator. Mas enfim, imaginei que seria uma ótima oportunidade da nova geração conhecer a história, mero engano. Misturaram as histórias de uma maneira grotesca,pois os mundos são diferentes de histórias diferentes! Deveriam amarrar melhor as histórias e situarem os personagens... A Alice deixou de ter atitude e parou de questionar as coisas, os personagens são todos muito superficiais; parece que a atenção ficou apenas para os efeitos mesmo, que realmente são bons. Mas é só. O roteiro é muito fraco. Espero que nesta era de tecnologias avançadas onde cada vez mais os efeitos surpreendem não esqueçam de que o melhor do filme deve ser sempre o roteiro!
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